O Estupro - Parte II

(Continuação do post anterior)

Foto Marc Hoppe

Frio. A pele nua sentia frio. Cecília estava quase chegando à tona. As pálpebras batiam-se freneticamente determinadas a escancarar os olhos. Sentiu novamente os braços e pernas e num espasmo tentou mover-se. Inútil. Tinha os pulsos e tornozelos amarrados à cama de casal. Alguém se mexia rapidamente perto dela, a imagem foi tornando-se mais e mais nítida.  Começou a forçar as faixas que a prendiam à cama. Finalmente conseguiu arregalar os olhos vivos e acordados. Quase simultaneamente uma venda desceu sobre seu rosto e foi amarrada à sua nuca. Tudo ficou escuro outra vez.  Então, enlouqueceu. Como um peixe que se descobre fisgado, ela debateu-se convulsivamente. Gritos, choro, longos minutos do desespero antes da entrega.

Após esta brevíssima eternidade, o peixe entregou-se e deixou-se puxar pelo anzol como um cachorrinho de madame. Cecília, esgotada, largou o corpo sobre o lençol de cetim.  Soluços fundos vieram dos pulmões da menina que ela não era mais. Estava completamente entregue ao desconhecido. Então, não é a morte o desconhecido supremo? Um longo silêncio cresceu entre as paredes. Mas Cecília podia sentir o peso dos dois olhos debruçados sobre ela. 

O homem sentou-se na cama ao seu lado. Com os sentidos aguçados pelo medo, podia ouvir a respiração nervosa, rápida e forte ali, a menos de um metro do seu corpo. A mão dele espalmou-se quente abaixo do seu umbigo. A barriga contraiu-se reflexa. Mas a mão firme, como um peão de rodeio, seguiu ágil montada em seu ventre. Disparou frases a esmo. Pedidos, súplicas, palavras estúpidas desconexas...  A mão surda iniciou, então, o que seria um passeio sem fim pelos aclives e depressões, pelas fendas e pelos, dobras e texturas de Maria Cecília. Não era um tatear vulgar. Mais parecia um exercício de reconhecimento, tatear de cegos. O caminho da mão sobre a sua pele foi fechando as portas da razão até que ela não pudesse mais dizer nenhuma palavra.  Os dedos avançaram impunes para dentro do umbigo, seguiram para os grandes lábios, escorregaram por entre os pequenos e alisaram sutilmente as paredes da vulva, deixaram a vagina úmida e desceram pelas coxas, apertaram músculos tensos, contornaram, qual artesãos do barro, a circunferência do joelho, foram aos pequenos pés provocando cócegas... Voltaram lentos, pontas de dedos deslizando pelas pernas, vencendo a cintura, chegaram aos mamilos e sobre eles dançaram uma valsa circular. E quando a mão retirou-se e o suplício parecia ter fim, os mesmos trajetos foram feitos pela boca. 

O medo e o prazer duelaram gigantes no mar encapelado que era a pele de Maria Cecília. Um último esforço inútil de liberdade, novamente pulsos e tornozelos detidos. A boca do homem, cansada da depressão do umbigo, escalou-lhe as paredes, voltou para a barriga, arrastando a língua quente, desceu a montanha do abdome, afundou-se entre os fios negros e subiu para o botão proeminente, túrgido, eletrizado... então  Cecília desmaiou.

(CONTINUA...)

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