Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2024

Deste jeito, deste tamanho, nesta hora

Imagem
Está bom assim.... desse jeito, desse tamanho, nesta hora. Eu te digo: não precisa mais nada. Senta naquela nuvem e apenas seja  no breve espaço em que a nuvem se desmancha. Não existe de fato nada além desta incompletude. Falta o corpo perfeito, a grana do aluguel, o amor da vida, falta o filho, o tempo pra fazer tudo, a vontade, falta, falta, falta... Ela não foi criada para que a mente te torture: a falta. Ela deveria ser, no máximo, um convite ao movimento quando se sabe que faz parte o ficar parado. É seu direito ficar parado e bastar. Sem angústia. Desvestir a falta como quem descalça o sapato no final de um longo dia de trabalho.  Não se viciar nela. Não insistir cavando quando a pele dói. Está bom assim... desse jeito, deste tamanho, nesta hora. Está perfeito e aplausos soam nos infinitos cantos do universo. A vida te ama deste tamanho, nesta hora, deste jeito que você pode ser. E falta muito como sempre. Apenas não olhe por instantes para o que falta. Se afasta do quadro e olh

Sem música

Imagem
Nada a fazer. Não sei ser esta pessoa inerte. Ficar parada, quieta, sem arrumar nada, sem varrer, costurar, ler, escrever, ligar a tela do celular... Nada. Não sei. Invento coisas pra encher minha cabeça completamente apavorada por este hiato sem movimento, sem gestos, sem palavras, sem propósito, sem conteúdo. Apavorada de me pegar assim: completamente inútil na ciranda do cosmos. O mundão lá fora rodando alheio ao meu silêncio imóvel. O mundão rodando antes e depois de mim. Então corro para o teclado e vou escrever, minha fuga conhecida. Escrevo para provar a mim mesma que existo, que importo. Alguém um dia precisará ler este texto e eu o terei escrito, invento. Bobagem. Devia ter ficado quieta e suportado o vazio mais um pouco. Deixado a ansiedade me comer até passar. E seguir para além dela... O que existe para além da minha voraz necessidade de agir, de consumir, de compartilhar? Não sei. Não sustento o corpo boiando no mar por mais de alguns segundos. Não deixo o nada me engolir.

Apenas mais um dia até que acabe

Imagem
Nunca esteve integralmente aqui. Registre-se. Sempre duvidou dos sólidos e das fórmulas. Quando criança, tentou por diversas vezes desmanchar-se no vento. Voltar ao ilimitado. Não pôde. Então inventou birras de ter nascido.  Afirmava, meio sem certeza, não ter feito a escolha. Teria sido empurrada de uma nuvem: registre-se. E como não tinha jeito, foi crescendo... Vendo o corpo crescendo. Aferrada à crença da inutilidade desse troço chamado vida. Muito mal conectada, deu pra ter umas morrenças. A alma se estranhando com a carne, fazendo ânsia de fugir. Não podendo. Tomou muitos remédios e assim ancorou melhor no planeta. Mal encaixada, registre-se, mas apta a caminhar.  Então deitou mãos às obras. O fazer: seu jeito de estar no mundo, suportá-lo. Esculpir demoradamente louva deuses em blocos de granito e assim distrair-se do humano. Fazer sem parar porque parando afundava no silêncio. E fez coisas de gente: um monte. Fez até outras gentes. Registre-se: sem nunca estar integralmente aqu