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Mostrando postagens de outubro, 2014

Legumes no Copo

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Jantávamos. O ritual de sempre não fosse o copo de vidro cheio de legumes ao lado do meu prato. Fitei perplexa a instalação vítreo leguminosa e busquei no marido e filhos uma explicação para o evento desconexo. O marido balançou a cabeça, incrédulo. Minha filha apontou com o dedinho o autor da façanha: eu. Imagine muitas reticências, milhares delas, que comportem o silêncio onde paralisei ao descobrir que alguns segundos da minha vida haviam sido apagados. E pior: segundos absurdos onde um ser com minha pele, músculos, ossos, órgãos, meteu cinco a seis legumes dentro de um copo de vidro transparente. Rimos. Mamãe está maluca, disse eu para a pequena. Está ficando velha e gagá, reiterei. Ela riu. O jantar seguiu seu rumo sem novas ocorrências exóticas. Mas o breve apagão mudou-se feito pulga para as veredas posteriores da minha orelha. No caos absoluto do vai, faz, corre, pega, tira, muda, liga, desliga, compra, põe, acha, marca, desmarca, aperta, aperta, aperta... brotou um branco p

Petralhas, Tucanalhas e o Papai

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Foto André Duseke Vamos amadurecendo no Brasil. Aos trancos. Olho para os dois pratos da balança eleitoral com incoerências caindo pelas beiradas. Antes, me falavam de uma falta de caminho assustadora. Refleti melhor: é um avanço. Estamos vencendo o dilema infantil entre o bem e o mal. Ontem, achávamos que comunista comia criancinha, hoje começamos a entender que comunistas, ruralistas, neoliberais, sindicalistas, são capazes de, mediante circunstâncias ou fissuras de caráter, matar uma criancinha sem atendimento numa fila do SUS. No jogo do poder o objetivo é o poder, o resto, incluindo valores como honestidade, compromisso, moral, respeito, são adendos manipuláveis conforme as tais circunstâncias. Políticos (salvo honrosas exceções) são profissionais da política e não empregados do povo. Ainda que não passem seu mandato tocando flauta, ainda que façam algo pelo povo, ainda que não sejam propriamente bandidos. São profissionais da Política SA e trabalham de acordo com a cartilha

O Esquisito

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Aquele homem barbudo, cabeludo, enrolado num pano é muito esquisito. A sirene tocou e a luz vermelha do meu sensor de gente esquisita está doida, piscando. Aciono o sistema de proteção de esquisitices ultramoderno capaz de criar uma película mental isolante hiper-reflexiva repelente de seres não naturais, sobrenaturais ou alienígenas. O único que vem com quatro ampolas auto-injetáveis de bom senso sintético. Aplico-me as quatro. E fico muito bem acomodada em minha trincheira conceitual, esparramada no meu conjunto estofado de convicções em couro legítimo, quando vem de lá uma mensagem do homem barbudo. Eu, por descuido ou curiosidade leviana de um momento de ócio, leio. Horror! Lá está, no meio das palavras do homem, integrada, abraçada, enroscada tal qual cobra no ninho, boiando encharcada como rosquinha no café com leite... alguém que se parece... comigo mesma. Afundo mais o nariz na mensagem... Sim, sou eu, sem dúvida. Queixo apoiado no chão, sigo lendo na esperança de desfaze