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Mostrando postagens de novembro, 2010

Cuidado com o Caps Lock

OUTRO DIA ESQUECI O CAPS LOCK APERTADO E MANDEI UM INOCENTE EMAIL EM CAIXA ALTA. Recebi uma resposta magoada em letras miúdas: tá gritando por quê!? Pois é. Cuidado com os emails. Cuidado com o "caps lock" que ele aproveita a distração da gente pra gritar com as pessoas. A palavra escrita é traiçoeira. Cuidado ao fazer uma ironia por email. Porque não dá pra anexar aquele seu sorrisinho de canto de boca. E se você não colocou um rs, hahaha, hehehe, pode não ter ficado claro que de fato você não acha a sua amiga uma vaca gorda. Era uma piada. Mas ela estava em dia de vaca gorda, e objetivamente, a amizade correu para o brejo. E as malditas cópias ocultas? Quer dizer que alguém quer falar algo com outro alguém e quer que você saiba, mas não quer que o outro alguém saiba que você  está sabendo. E esta criatura otimista não te avisa, ela quer que você perceba toda a complexidade de sua intenção e compreenda que está lá sim, mas oculto. Isso quando você, massacrado pelo estresse c

Merda Dita

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Um amigo documentarista me veio com perguntas irrespondíveis sobre o amor. Documentaristas são seres que nos cutucam, e nos alvejam, e nos sojigam com perguntas, um saco. E o pior, eles empurram as perguntas contra o nosso conforto até que a gente escorra para fora da carapaça e fale qualquer merda. Às vezes uma verdade profunda que carregamos em nós pode ser uma merda sem tamanho.  Para os outros. E eu falei. Sugeri que toda mulher gosta de leve de um canalha. Minha nossa. Está lá gravado e eu conheço o sadismo dos documentaristas. Ele vai usar. Digamos que eu tenha tentado colocar a questão de algum ponto de vista antropológico-psico-cultural, digamos que eu tenha buscado justificar de alguma forma intelectualmente linda a minha declaração, mas nada impedirá que ele edite e deixe apenas a frase nua e crua e abjeta: sim, nós mulheres gostamos de um canalha de vez em quando. Um primitivo que nos arraste pelo cabelo, um macho troglodita que nos mande calar a boca. Um grosso, estúpido,

Diálogos Insólitos e Cotidianos 1

Tá vendo? Aqui ó! Esses furinhos! - Sei, que que tem? - Celulite! - Ah, tá, é isso? - Olha meu rosto como tá redondo? - Redondo? - Claro, arredondou no queixo, é gordura isso. - Sei. - Não é possível que você não note. Olha aqui! Aqui ó! - Que isso, não precisa levantar a saia, olha a garçonete olhando... - É rápido, olha, aqui na coxa, na parte de dentro... - Pelo amor de Deus abaixa essa saia! - Tá ou não tá vendo?? - Tô, tô! - O quê? Tá vendo o quê? - Sei lá, meu Deus, abaixa essa saia! - Gordura localizada, minha perna vai certinha até o joelho e daí vai engrossando. Vou ficar de pé pra você ver: uma coxa fica espremida na outra! - Senta, pelo amor de Deus, senta! Olha, eu não vejo isso.  Também não vejo se você pinçou a sobrancelha ou tirou dois dedos no cabelo. Não adianta, eu não vejo. - Ah, vá! E quando passa aquela menininha de dezesseis anos de short e miniblusa, a barriga sequinha, você não olha? - Tá. Olho. Mas é o conjunto, entende, o todo. A sua gordurinha eu não vejo. Es

Gente Invisível - Gordinha

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Ela é redondinha. Sem pontas. Até entre as falanges dos dedinhos ostenta deliciosas curvas preenchidas de fofura. Chamam-na de gordinha, no diminutivo, apesar de não ser pequena, porque ela inspira amor.  Gordinha, na sua ingenuidade de madona renascentista, nada sabe de revistas de moda com garotas de treze anos esquálidas e de cara feia. Gordinha é sempre a extensão de um sorriso. Ninguém contou a ela que existe uma norma estética para ser feliz que condena à morte afetiva e visual mulheres pesadas. Mulheres pesadas são mulheres que passam por uma máquina de transformar peso em dor chamada balança. Gordinha não sabe. Veste roupas sensuais e desfila sua leveza de alma entre os homens. E eles a amam. Querem mergulhar em sua fofura, deslizar a mão sobre suas curvas redondas e apertar sua carne generosa entre os dedos. Gordinha ri, gargalha deliciosa. Nunca foi envenenada por uma folha de alface, uma ração humana, um biscoito light, contaminado pelo julgamento social. Se come alface é pe