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Meu filho, o cliente

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No restaurante, o jovem está sentado em frente à mãe com ar de tédio e olhos perdidos na tela de vidro do celular: absorto num papo de whatsapp elíptico e infinito. A progenitora se esforça em parecer interessante. Faz uma pergunta estúpida sobre o dia, os estudos, algum amigo, algum amor... O jovem retorce a boca num muxoxo cheio de enfado e responde com monossílabos sufocantes e aquela aura de superioridade blasé. Não soubesse que se trata de um filho e sua mãe e acreditaria tratar-se de um faraó egípcio sendo assediado pelo cotidiano desinteressante de uma serva. Eu, sentada na mesa ao lado, sinto o fígado latejar em espasmos biliares. Penso em me levantar num susto e dar um tapa coreográfico no telefone com força suficiente para que voe sobre as mesas indo se estilhaçar contra a parede mais próxima. Agarro com os dedos a xicrinha de café que há de manter-me como uma âncora resignada em minha mesa. Realizo que estou absolutamente identificada com aquela máquina de parir