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Mostrando postagens de março, 2013

Vem morrer, vem!

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Venha morrer na próxima chuva! Venha que o país é este! Não vá para o Japão, lá tem governantes sérios, tem funcionários públicos de primeira, você não vai conseguir nem se molhar no próximo Tsunami. Venha para o Brasil. Nós temos tragédias que não saem de cartaz. Escolha a sua encosta, a sua favela no morro e venha, está tudo como sempre esteve e estará. Nós não corremos o risco de um competente, um comprometido, um cara ou muitos caras com autoestima quererem resolver alguma coisa, nós nos garantimos, nós convocamos todos os bundas-moles disponíveis, eles estão à frente da coisa pública e a coisa tá feia e é para sempre: venha morrer na próxima chuva! Venha morrer queimado com seus filhos na nossa favela de papelão. Você não conseguiu morrer no ano passado? Milagrosamente seus filhos saíram vivos do barraco em chamas? Não se desespere meu querido! Você pode voltar!! A favela está lá te esperando!!! Levante sua casinha combustível, de preferência debaixo do viaduto, venha morrer qu

Boazinha é a Vó

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Não me chame de boazinha. Me chame de vaca, mas não me chame de boazinha. Eu detesto gente boazinha. E não venha me dizer que estou na TPM, o que é verdade. Gente boazinha é caricatura. Aprendeu a bondade na pré-escola e exercita com a espontaneidade de um atendente de telemarketing. Por Deus, não diga nunca que sou boazinha... Este texto agora pode ser lido na íntegra no novo livro da Senhorita Safo.  Disponível a partir de 12/03/2016 no site das melhores livrarias.

Vermelho

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Mãe, hoje, quando desci do avião, tinha as pernas e as calças sujas de sangue. Sua partida acordou meu útero e não houve absorvente que chegasse. Corri para o banheiro do aeroporto, e tive que trocar de roupa. Tudo ficou vermelho e vivo e forte... e eu achei bonito.  Mãe, eu aprendi que o universo enche nossos caminhos de sinais para quem quer ler. Meu útero pintou nas minhas pernas uma despedida vermelha pra você, em vez de cinza. Com o sangue que ele guardou pra receber uma vida, que não veio. Não é linda, mãe, esta mensagem do universo? Morrer e nascer juntos, misturados?  Hoje você se foi.  Em mim todas as bocas do feminino se abriram feito flor. A flor do útero pingou sangue. A flor do olho pingou mar. E apesar da dor, do sal, mãe, tudo ficou bem.  A pena, eu molhei no sangue e escrevi estas palavras, o sal, guardei pra temperar os dias que virão. Tem gente ingênua que acredita no fim, mãe. Pessoas de régua no bolso. Elas me acham biruta. Não entendem que estou mesmo falando

Eu, a madrasta

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Mamãe você é má. Minha filha de sete anos me diz entre um beicinho contrariado e uma vontade de rir. Sim, eu sou má mesmo, de verdade. Ameacei jogar o fora o bichinho feito de sucata, caso ele não fosse guardado no local devido, e joguei. Dei uma ou duas chances de sobrevivência ao delicado bonequinho de papel, e como ele não saísse espontaneamente caminhando de cima da mesa de estudos e rumasse submetido para o armário de brinquedos, deitei sobre ele minhas garras poderosas de bruxa e arrastei o indefeso e impotente brinquedo para o lixo reciclável. Sou má, mas tenho consciência ambiental.  E minha filha talvez não acreditasse, mas agora não tem dúvidas: mamãe é capaz de coisas terríveis, mamãe não se comove diante dos olhos marejados da pequena e doce princesinha cor de rosa e seu brinquedo perdido. Mamãe não é mãe: ela é a madrasta má dos contos de fada, a perversa criatura com uma verruga no nariz e uma maçã envenenada entre os dedos tortos. E diante desta ameaça dentro do caste