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Mostrando postagens de novembro, 2023

Enquanto derretemos

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Minha caixa craniana parece que vai rachar como casca de ovo cozido tamanho o calor deste sol de inverno... outono?... primavera? Ninguém sabe mais. Estou largada sob o sofá extensível feito um jacaré à beira do rio. Alcanço o controle remoto da TV e assisto um filme... dois filmes... Preciso levantar e fazer algo útil, mas só consigo boiar feito um pedaço de carne numa sopa de legumes. O ventilador soprando firme na minha cara um ar cada vez mais quente. Não sigo para o terceiro filme, me iludo de que preciso checar as mensagens do whatsapp atrás de algo importante... é só um cacoete pra que eu divague para as redes sociais e passe mais uma hora babando enquanto vozes engraçadas dublam vídeos de bichinhos fofos ou crianças famélicas e machucadas surjam em apelos desesperados da Cruz Vermelha, dos Médicos sem Fronteira, da Acnur... Maldito algoritmo que sabe da minha terrível culpa em existir deitada neste sofá extensível enquanto crianças morrem. Uma hora empurrando a tela com o dedo

Auto-Acabados

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Saco cheio. Falta gritante de vontade de descer para o playground humano. Saco cheio de ser humano. Bicho cagado. Fazedor de guerra, triturador de crianças inocentes, animal corrosivo. Exterminador de outras espécies e da própria. Inventor de crenças que viram cruzes pra carregar como este capitalismo burro. Aposta todos os dias que um montão de gente na merda e um tiquinho com a grana toda vai funcionar. Colecionador de inutilidades premium num mundo cada vez mais violento. E meu saco inchado e vermelho querendo explodir. E o babaca desregulando o clima, destruindo floresta, jogando a desgraça da embalagem de plástico na rua, comendo a camada de ozônio. Não é um invasor alienígena do mal, é o Zé, meu irmão humano. Reflexo horroroso de mim mesma no espelho. Bichinho ganancioso, egoísta, cruel. Meu saco pulsa em espasmos como se quisesse vomitar o ser humano de dentro de mim. Não tenho como. Engulo o bicho com goladas de frustração. E meu saco, elástico, não sei como, vai se enchendo ma