Auto-Acabados
Saco cheio. Falta gritante de vontade de descer para o
playground humano. Saco cheio de ser humano. Bicho cagado. Fazedor de guerra,
triturador de crianças inocentes, animal corrosivo.
Exterminador de outras espécies e da própria. Inventor de crenças que viram cruzes
pra carregar como este capitalismo burro. Aposta todos os dias que um montão de
gente na merda e um tiquinho com a grana toda vai funcionar. Colecionador de
inutilidades premium num mundo cada vez mais violento. E meu saco inchado e
vermelho querendo explodir. E o babaca desregulando o clima, destruindo
floresta, jogando a desgraça da embalagem de plástico na rua, comendo a camada
de ozônio. Não é um invasor alienígena do mal, é o Zé, meu irmão humano.
Reflexo horroroso de mim mesma no espelho. Bichinho ganancioso, egoísta, cruel.
Meu saco pulsa em espasmos como se quisesse vomitar o ser humano de dentro de
mim. Não tenho como. Engulo o bicho com goladas de frustração. E meu saco,
elástico, não sei como, vai se enchendo mais. Corro pra janela a ver se algum
meteoro me salva. Nada, o céu está monótono de tão cinza. Penso melhor: o
meteoro seria um desperdício de massa incandescente. Somos autossuficientes. Vamos
nos auto-acabar sozinhos. A natureza, pairando acima de nós, apenas vigia e espera.
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