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Mostrando postagens de junho, 2015

Estupidez

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Em junho deste ano meus ouvidos adoeceram. Fartos da balbúrdia do mundo que alimento. Não lhes basta o silêncio solitário da meditação, querem o meu silêncio no tiroteio verbal cotidiano. O silêncio. Necessário. Urgente. Produzi-lo. Falar menos. E menos. Até nada. Desviciar-me em falar. Desviciar-me em comandos, em comentários. Receber as provocações do mundo e calar. Não reagir, não rebater, não repicar. Calar. Produzir silêncio para o conforto do mundo. Abrir mão do status de máquina afiada de pensar e cuspir palavras. Deixar de dar feedback, de dar fé, de depor. Calar meus achismos e, se possível, nem chegar a achar nada sobre esta sua escolha, esta sua atitude, este seu novo amor. Só balançar a cabeça de leve e aceitar. Muda. Parar de tentar remediar o mundo com minha fala. Parar de terapeutizar o mundo. Aquietar nas coisas como são, na beleza do que é. Dar tempo aos olhos de encontrar a beleza que jaz antes que o pensamento borre tudo com suas expectativas e a fala contamine a

Dez trilhões de eu

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Conversa com tuas células.  Para tudo. Fecha os olhos. Fala com elas. Teu corpo são muitos corpos, muitas pequenas vidas associadas.  Agora mesmo, uma infinidade de processos estão em marcha movidos por uma inteligência maior que a da tua mente. Teu corpo, tua testemunha do tempo, teu mapa da caminhada, tua memória emocional espalhada da unha do pé à ponta do fio mais comprido do cabelo. Conversa com ele. Para tudo. Fecha os olhos. Escuta tua corrente sanguínea.  Sente o ar massageando internamente teus pulmões. Existe carícia mais deliciosa? Perceba: recebes carinhos oxigenados todo o tempo e jogas fora. Encosta uma mão na outra. Simples assim. Sente teu próprio calor: é isto que tu és, um ser quente, um ser que aquece. No calor das tuas mãos, o segredo do futuro dos homens. Que arma conheces mais poderosa que um abraço do corpo? Onde um ser humano se coloca mais inteiro, mais indefeso, senão na concha tépida dos teus braços?  Desliza tuas mãos pelos teus braços em reverência e sen

O coxo dança

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Garrincha Na integridade do meu coxo, vou buscando o meu existo. Na verdade do meu manco, distribuo fartos esbarrões em gente querida. Sinto a culpa avançar sobre as pernas em contrações musculares, como sempre, na intenção de devolvê-las retas à correta e aprovável colagem de cacos de mim. Barro com o braço. Defendo meu coxo e seu incômodo. Peço desculpas inúteis: não mudam o que sou. Busco entender o novo e estranho caminhar: meu coxo, meu reto.  Avanço sobre o temido, o evitado, o que não cabe, o que me revela. E vejo minas explodirem levando os que iam ao meu lado. Não arrefeço o passo, não me desvio. Não quero mais fazer ciranda com meus mortos. A propulsão da alma desconhecida me empurrando para frente como um tanque cruzando a floresta. Sem conversa, sem interpretações, sem pena das plantas no caminho. Levando no peito os cipós do "não" que não entendo. Determinada a atravessar. Ciente dos buracos com estacas que eu mesma cavei pelo terreno e cobri com folhas. E n