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Mostrando postagens de dezembro, 2013

O Estupro - Parte II

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(Continuação do post anterior) Foto Marc Hoppe Frio. A pele nua sentia frio. Cecília estava quase chegando à tona. As pálpebras batiam-se freneticamente determinadas a escancarar os olhos. Sentiu novamente os braços e pernas e num espasmo tentou mover-se. Inútil. Tinha os pulsos e tornozelos amarrados à cama de casal. Alguém se mexia rapidamente perto dela, a imagem foi tornando-se mais e mais nítida.  Começou a forçar as faixas que a prendiam à cama. Finalmente conseguiu arregalar os olhos vivos e acordados. Quase simultaneamente uma venda desceu sobre seu rosto e foi amarrada à sua nuca. Tudo ficou escuro outra vez.  Então, enlouqueceu. Como um peixe que se descobre fisgado, ela debateu-se convulsivamente. Gritos, choro, longos minutos do desespero antes da entrega. Após esta brevíssima eternidade, o peixe entregou-se e deixou-se puxar pelo anzol como um cachorrinho de madame. Cecília, esgotada, largou o corpo sobre o lençol de cetim.  Soluços fundos vieram dos pulmões

Sai Safo, Entro Eu

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Sappho - C. Mengin Senhorita Safo está um porre. Sim, ela está chata e obcecada pelas sombras humanas. Tentou até escrever sobre algo bacana, legal, uma pessoa generosa, uma prova de amor, uma ONG que alegra o final de ano dos velhinhos do asilo, só para variar.  Não deu conta. Repete compulsiva que o mundo está uma merda, o ser humano é foda e quer ir embora do país. Mergulhada em sua bílis, feito um crocodilo, só com os olhos maus de fora. Diz que vai criar ovelha no Uruguai. Diz que não vai escrever mais, que escrever é uma utopia inútil.  Eu sei o que é. Final de ano. Sempre que ela se depara com a primeira árvore vestida de luzinhas piscantes, começa seu inferno. Final de ano ela se deprime. Batata. Então decidi conceder-lhe um indulto de Natal. Abri a porta da masmorra e a deixei entrar. Nem olhou pra trás. Disse a ela que vou publicar um conto meu enquanto ela não volta, vou publicar em partes, pra ir durando, enquanto ela não volta. Não sei se ouviu. Desapareceu no escuro

Época Feia

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Estouro minhas costelas com o facão e rasgo o coração de saudades da Belle Époque. Como romântica encarnada, nasci deslocada do meu tempo. Eu não pertenço a esta época feia. Até os artistas aqui são burocratas e cheios de verniz. Não pulsam, não revolucionam, não explodem, não querem transformar nada. Estão miseravelmente integrados enquanto animadores pouco necessários do sistema. Este texto agora pode ser lido na íntegra no novo livro da Senhorita Safo.  Disponível a partir de 12/03/2016 no site das melhores livrarias.

História Emprestada - H. M. e o abandono seguro

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H.M. quer ficar só. Ficar só é estar seguro. Mas é um cara bonito, bacana e não justifica. Por que ele está só? Porque não arrumo a mulher certa, explica. H.M. só erra. Choraminga, reclama do azar, sofre mesmo, de verdade, quando outra mulher se vai. E ninguém entende: tão bonito, tão legal... Como pode encontrar sempre no palheiro humano a tal que vai lhe dar o pé na bunda, a inadequada, a inviável?.. Este texto agora pode ser lido na íntegra no novo livro da Senhorita Safo.  Disponível a partir de 12/03/2016 no site das melhores livrarias.