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Mostrando postagens de maio, 2022

Precisamos falar sobre isto

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Parto, neste momento, da vontade de não viver. Sísifo, condenado, quer desistir de empurrar a maldita pedra até o topo da montanha de onde ela sempre rola.  A paisagem lá fora já está pálida e fria. Não me comove mais. Viver é enorme e pesado e morrer é simples. Sento-me na borda do abismo onde o vento, no vazio, me estende os braços e nele vejo um colo para descansar. Este é o momento precioso entre o ser e o não ser. Eu nada sei disso. Estou engolida pela descrença, crivada de pensamentos ruins que preciso calar. Este é o momento precioso entre o morrer e o acordar. Eu nada sei disso. Apenas aguardo o impulso final. Sou a mais translúcida das borboletas voando mar adentro. Só vejo paz em dissolver-me no todo. Então, percebo no horizonte, no encontro entre os topos dos prédios e o céu, uma fissura. Sutil, como se fosse um minúsculo defeito na paisagem. Sim, a abóbada celeste está rachando ali. Tento voltar para o meu abismo. Não posso. Há uma fissura no céu, um defeito na perfeição do

Vai ter golpe

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Pobre democraciazinha minha, sempre balançando, sempre por um fiozinho, Sempre flertando com um tiraninho, um mitinho, um salvadorzinho, Sempre assustada, pendurada no abismo, acostumada com papais abusivos e mamães cúmplices. Pobre democraciazinha inventada, imitação barata, sempre com inveja de alguma gente distante bacana evoluída. Democraciazinha desinteressante para tantos, dispensável, incompreendida, culpada. Democraciazinha fajuta, esfarrapada, que lá se vai desmanchando, fustigada por um imenso silêncio. * * *