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Mostrando postagens de junho, 2012

Aperta o K

Encontrar ficou difícil, impossível, fácil é desencontrar. Instalei um ícone do Facebook na minha área de trabalho: janela ilusória para o outro. Um pop-up avisa que fulana curtiu um troço que eu falei e beltrano comentou minha nova foto do perfil. Saudade de fulana e beltrano. Estão vivos, parece, a pop-up me disse que sim. Devem estar com alguns cabelos brancos já. O que vejo são fotos, todas ótimas. Em nenhuma ele está vomitando no banheiro do boteco ou ela tem o rimel escorrendo de tanto chorar.  A profundidade humana emocionada se foi, restou a quantidade. Tenho três mil amigos ou mais. Todo dia adiciono um ao nada. E a cada mês faço um esforço focado de colocar um deles diante dos meus olhos e atrás de uma xicrinha de café. Em geral, eles não podem, ocupados, lotados. Carregados enxurrada abaixo como eu, feito toco flutuante que vai esbarrando aqui e ali em gente que não escolheu. Um desses amigos, que tive o prazer de encarar em um almoço numa mesinha de calçada sob o sol de in

Céu Coalhado

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Escuta, meu amor, é com a razão mesmo que a neurose se estabelece. Neurose é um bicho esperto que procura dar a menor pinta possível. O neurótico está certo e bem travestido de razão...

Autoflagelo

Minhas costas doem Perdão Minhas costas me torturam Perdão vida Perdão corpo Minhas costas me cobram Que eu me escute Minhas costas não querem massagem Gritam as pontadas nas minhas costas Perdão amor Perdão No lugar onde não vejo A vida Em forma de dor Abre canteiros de obras Nas minhas costas. * * O poema é de 1990. A dor é agora. *

Sem Provas Cabais

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Confessemos. A gente tem um prazerzinho mórbido com o lado ruim do outro. É o que alimenta nosso exercício incontrolável da fofoca. Eu fofoco como quem coça uma frieira. É ruim e é bom. Quando exponho a ruindade do outro, reafirmo meu lugar de superioridade, ainda que momentânea, ainda que sob determinado aspecto. É o tribunal cotidiano rolando em voz baixa pelos cantos.... (ESTE TEXTO VOCÊ PODE LER NA ÍNTEGRA NESTE LIVRO...)

Mais Bichos

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Pagu está deitada no colchão no chão do escritório e se finge de distraída. Sábia, põe sob controle a energia impulsiva de seus instintos mais atávicos que ordenam: ataca. Tição serpenteia à sua frente, caminhando lento e calmo em direção à porta, outro fingidor. Seu corpo é todo olhos de olhá-la sobre o colchão, pronta para se atirar sobre ele e imobilizá-lo. Faz-se de isca para testá-la, obrigá-la a se entregar, a se perder num salto inútil em sua direção. Ele escapará. Ele sabe. Ele é um gato. Num átimo de segundo desaparecerá sob os bigodes dela, projetado pelas pernas traseiras de mola.  Ela também sabe. Já o perdeu várias vezes por querê-lo demais. E uma ou outra vez até o pegou distraído e o submeteu à força. Pagu é maior, mais forte, é cachorra. Nasceu para matá-lo. Mas não. Está ali deitada no colchão com as orelhas em riste olhando para o nada, para fora. Olha para ele com as orelhas. Com os olhos diz: não vou. Finalmente convencido, Tição para, afunda a cabeça no chão e s