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Mostrando postagens de janeiro, 2018

O Sonho

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No sonho estou sentada com minha bolsa no colo diante de um muro sem porta. Esperando uma compreensão que me liberte. Uma gestalt que se feche e me permita deixar esta cadeira dolorosa e seguir. Pessoas são escolas, o coração me diz. Aguardo o ensinamento que me traz esta pessoa calada do lado de lá da parede sem porta. Vez em quando jogo flores por sobre o muro na esperança de provocar uma resposta que alimente meu sim ou meu não. Nada. Minha lição é o silêncio irrespirável. A solidão crua sem paliativos. Me procuro dentro da bolsa, nos guardados que levei de cada partida quando finalmente pude deixar a espera diante de outros muros. Um “não” roto e encardido que recebi um dia no meio de uma pista de dança de um homem que eu amava, duas asas de papel machê que usei quando voei para longe do chão do abandono, agulha e linhas coloridas de costurar a alma despedaçada, a velha chave do sótão onde posso me arrastar no chão feito lagarta e me contorcer em paz até virar nova borboleta. Ol

Não Magoado

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O não magoado é o novo sim. Tenho tentado dizer um não medicinal, um não maduro... Não consigo. Sai só um não magoado que não se sustenta. Um não raivoso com faca na mão. Não rejeitado, doido pra ser sim. Quero dizer um não pesado de autoestima mas sem ódio, não definitivo. Manifestação natural do fim de um embate interno. Não flor que finalmente desabrocha. Mas o que consigo é o não decorado, Calçado de racionalidades mas emocionalmente frouxo. Não volátil. Graveto no caminho da tromba dágua. Quem não suporta o não do universo não aprende a dizê-lo. Quero pousar o não amorosamente entre os meus seios. Sem rasgar a pele e sem ferir o coração. * Para Chica e Nany. Escudeiras. * *

Alada

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Carsten Witte Eu espero o voo... o próximo voo Nasci com asas invisíveis E o solo, no início, me incomodou Na crescida aprendi o ninho Onde cultivo amores-imperfeitos Mas o chão não é minha casa Moro onde os pés não têm apoio Onde as mãos alcançam o nada Moro no vento, naquele azul mais profundo, na solidão do vácuo Nasci com asas invisíveis E esta estranheza nas costas já me pesou muito E já morei em gaiolas tentando ser gente,  ser o outro de alguém Hoje estou casada com o céu E espero o voo... o próximo voo Até um dia ir alto demais E morrer nos braços do infinito. * * *