Postagens

Mostrando postagens de abril, 2022

Das mães que perderam os filhos

Imagem
Das mães que perderam os filhos, às vezes, doem os ossos. Só a elas é reservado o direito de soltar um súbito soluço fundo e desandar em choro perene de dia inteiro. Só a elas é permitido ter olhos de maré cheia e de ressaca. Apenas de mães que perderam os filhos é esperado um suspiro de rasgar almas entre os corredores de um supermercado. E, delas, não se espera que sempre boiem. Pois a elas é outorgado, por lei federal, afundar de repente no caminho da escola do filho que ficou, engolidas pelo chão. Das mães que perderam os filhos se espera que explodam cotidianamente pois caminham sobre minas escondidas em fotos, cheiros, endereços, bilhetes antigos, frases inocentes e lembranças das redes sociais.  Então, não se assuste, não se precipite, só aguarde que elas encontrem seus pedaços e ressurjam na superfície do dia. Demoram, porque não se acostumam em ser inteiras sem um pedaço. Mas não espere, das mães que perderam os filhos, que não voltem, que morram junto. Por que mães que perder