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Mostrando postagens de novembro, 2020

Looping

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Lá vem ela outra vez, cansativa. Sempre aquele arremedo de ser, de sentir, de estar. Lá vem ela, repetitiva feito um cacoete. Buraco negro devorador de energia vital. Lá vem ela: um dia vítima, noutro carrasco e, amanhã, vítima de novo. Ela e sua infelicidade ensaiada: não pode decifrar-se e perder o palco. Tantos figurinos de tragédias que precisaria jogar fora: bordados a mão dias e noites a fio com linhas grossas, escalavrando dedos, consumindo córneas. Mortalmente lindos. Então, lá vem ela mais uma vez: disco de vinil arranhado tentando arrancar segundos de atenção de um transeunte que ainda não aprendeu, mas aprenderá... é tudo solidão espetacular. Ela e o eterno retorno do que não tem saída. A boneca sem braço, o abraço que a mãe não deu, a pobreza,  a ausência, o abuso: tudo que na escassez virou brinquedo. Dançando diante da porta em vez de abri-la. Lá vem ela descascar a ferida que não pode curar ou a esmola não pingará no pires. Ela que nasceu para remediar e não para ser fel