O Sonho

No sonho estou sentada com minha bolsa no colo diante de um muro sem porta. Esperando uma compreensão que me liberte. Uma gestalt que se feche e me permita deixar esta cadeira dolorosa e seguir. Pessoas são escolas, o coração me diz. Aguardo o ensinamento que me traz esta pessoa calada do lado de lá da parede sem porta. Vez em quando jogo flores por sobre o muro na esperança de provocar uma resposta que alimente meu sim ou meu não. Nada. Minha lição é o silêncio irrespirável. A solidão crua sem paliativos. Me procuro dentro da bolsa, nos guardados que levei de cada partida quando finalmente pude deixar a espera diante de outros muros. Um “não” roto e encardido que recebi um dia no meio de uma pista de dança de um homem que eu amava, duas asas de papel machê que usei quando voei para longe do chão do abandono, agulha e linhas coloridas de costurar a alma despedaçada, a velha chave do sótão onde posso me arrastar no chão feito lagarta e me contorcer em paz até virar nova borboleta. Olho cuidadosamente cada objeto colecionado nas pelejas do crescer em busca de um bálsamo para o peito que dói. A bolsa tem ainda tantos compartimentos desconhecidos. A resposta está nela e não depois do muro, eu sei. Mesmo assim me distraio com ruídos que parecem vir do lado de lá. Tentando adivinhar movimentos da pessoa muda. Estou sentada diante do muro sem porta aguardando minha hora de renascer. Angustiada com o tardar do mensageiro. Agarrada à plenitude que irá me abraçar quando a carta for aberta. Certa de que você após o muro é outra vez o meu mestre. E é por isso que te amo tanto e permaneço e suporto a dor do novo parto.
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