Coragem cenográfica
A coragem do extremista é cenográfica. Serve só ao
espetáculo. Coragem de gritar ódio em direção à muralha da própria bolha que
sempre vai devolver-lhe o eco. E até quando explode abraçado a uma bomba, ele é
o que menos se arrisca, protegido pelo conforto de habitar um universo
simplório dividido entre o bem e o mal. Poupado pela preguiça emocional de poder ser
indiscutivelmente do bem. Preservado pela ideologia que ele transformou em
redoma inexpugnável. O extremista nunca corre riscos de verdade porque nunca
corre o risco de se expor à verdade do outro. É o mais assustado dos seres,
onde o medo fez sua melhor obra. A coragem mesmo está naqueles que se arriscam na
metade do caminho onde os mísseis dos dois lados caem e são capazes de parar de
correr no meio do estouro da sua própria manada. E abrem mão do espetáculo para trabalhar
no terreno mais anônimo, menos midiático, menos imediato, menos lucrativo da
construção de pontes.
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