Gente Invisível - Gordinha
Ela é redondinha. Sem pontas. Até entre as falanges dos dedinhos ostenta deliciosas curvas preenchidas de fofura. Chamam-na de gordinha, no diminutivo, apesar de não ser pequena, porque ela inspira amor. Gordinha, na sua ingenuidade de madona renascentista, nada sabe de revistas de moda com garotas de treze anos esquálidas e de cara feia. Gordinha é sempre a extensão de um sorriso. Ninguém contou a ela que existe uma norma estética para ser feliz que condena à morte afetiva e visual mulheres pesadas. Mulheres pesadas são mulheres que passam por uma máquina de transformar peso em dor chamada balança. Gordinha não sabe. Veste roupas sensuais e desfila sua leveza de alma entre os homens. E eles a amam. Querem mergulhar em sua fofura, deslizar a mão sobre suas curvas redondas e apertar sua carne generosa entre os dedos. Gordinha ri, gargalha deliciosa. Nunca foi envenenada por uma folha de alface, uma ração humana, um biscoito light, contaminado pelo julgamento social. Se come alface é pelo prazer de comê-lo, só. E o mais cruel de tudo, para nós outras catequizadas pela ditadura da magreza: gordinha é saudável. A felicidade, mais do que todas as pílulas do mundo, conduz Gordinha sem escalas a uma vida quase eterna. E, acreditem, ela vai dançando.
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Eu gosto, aprovo, incentivo. Faço comida e levo na cama. Cama grande, muita comida. Mas ela não entende, não percebe minhas intenções. E acha que estou sendo condescendente, que não bem assim. E a fome vai aumentando...
ResponderExcluirQuase fiquei com vontade de comer uma gordinha!
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