Pé Sem Pé

Aonde vão os pés de meia que desaparecem? Não posso conviver com esta incógnita. Debruço-me sobre a bacia de plástico onde eles moram: os pés de meia abandonados. Tudo estava tão certo, eram tão iguais um pé e outro. Mas, do nada, inexplicavelmente, absurdamente, um deles se foi. Dissolveu-se no ar. Transportou-se para outra dimensão. Não está na casa embora não exista meio de ter saído. Já busquei em cada canto improvável do guarda-roupas e até mesmo em locais menos estudados como atrás da máquina de lavar. Fui além e num impulso desesperado procurei nas gavetas da cozinha. Tamanha minha incapacidade de aceitar a tragédia do pé de meia desaparecido. Exausta, sentei-me no chão da área de serviço e chorei. Dentro da bacia de meias sozinhas uma metáfora gritava para mim sem saída: por que anda tão impossível o amor?

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