Humanos S.A.

Vem humanizar o humano... nas empresas, nas escolas, nas lojas, supermercados, na economia, na política... Vem humanizar o humano que ele anda murcho, descuidado, calejado de performances e lucros  e desigualdades e ambições. Vem dar água, dar abrigo, preservar o humano que lá se vai esgotando e matando o planeta. Vem acordar os poderosos do humano suicídio. Vem gritar na praça, nas ruas, nas janelas dos prédios, contra a desumanização do humano. Vem quebrar a régua onde o humano nunca alcança. Vem desautorizar esta dívida eterna chamada meta que obriga o humano a esfolar o humano. Não joga sequer um graveto na fogueira que consome gente, onde quem tem muito tem sempre mais. Interrompe com seu próprio corpo este círculo vicioso: dinheiro fazendo dinheiro no moedor de afetos. Não dá um passo se isto arrastar alguém.  Se nega às pequenas violências cotidianas impulsionadas pelo medo. Fala alto do massacre que você assiste, da fogueira alimentada de desgaste e infelicidade em nome da sobrevivência. Não corresponde mecanicamente ao esperado. Desconfia da ordem que vive da dor. Mostra esta inteligência humana que te fez um bicho diferente. Não sobe mais nenhum degrau. Onde foi preciso largar a mão dos outros, volta. Recupera o humano perdido na subida. Ali onde você cercou a chama do humano com as mãos somou-se mais um registro de resistência e por alguns segundos interrompeu-se o fluxo coletivo rumo ao moedor de carne. É sobre delicadezas perdidas, sobre o sentido da vida e não sobre o melhor, o mais rápido, o que vende mais. Vem humanizar o humano. Ou nem precisa vir. Faz um gesto aí no seu canto, na sua esquina, no seu escritório: um gesto por dia na direção do mais humano. Empunha feito espada esta genialidade humana que muito além de tecnológico te fez amoroso e interrompe sua própria extinção. Prova que você é um ser brotado do divino e não um câncer a ser extirpado da pele da Terra.

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