Atropelada
Hoje, no parque, fui atropelada por uma borboleta. Caminhava
perdida em meus dramas diários de sobrevivente num planeta áspero quando ela
veio louca e se atirou quase dentro dos meus olhos. Tomei um susto de beleza, harmonia e cores e
fui arrancada daquela ruminação amarga e inútil. Ela, a borboleta, rodou em
volta da minha cabeça como se quisesse garantir que eu havia recebido a
mensagem. Como se alguém, lá na dimensão desconhecida que chamamos céu, a
manejasse com um joystick. Rodou, rodou, passou umas três vezes diante do meu rosto
e apenas quando ri de mim mesma, se foi. Posso destruir toda sua poesia e chamá-la
de acaso, posso aniquilar seu poder de abrir um rasgo na realidade ilusória,
posso espantá-la com a mão como se fosse apenas um inseto estúpido e
atarantado. Mas não posso. Estou lá jogada no chão, atropelada, com as certezas
fraturadas, sangrando arcos-íris, com as retinas vidradas num céu que eu nem
tinha visto tão azul.
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