Uma morte muito suave

Quando a morte vier me buscar, tomaremos um chá com limão e daremos risada de todos os medos que eu tive. Revisitarei cada um deles agora com a mão enlaçada à dela e estarão calmos, pacificados. A morte sentará paciente na cadeira à minha frente e me deixará olhar longamente o céu através de uma janela. E sob ele desbotando toda a vida concreta que pouco a pouco perderá qualquer sentido. O mundo ao meu redor terá morrido antes e só quando ela sentir que estou pronta, me envolverá num abraço amoroso. E irei ficando cada vez mais jovem, cada vez menor, até retornar àquele bebê que ganhou um planeta pra brincar. Então ela me enrolará com cuidado num manto gigantescamente suave e me embalará como boa mãe enquanto desexisto.

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Para Ana Mi.

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