Redondo como a Terra

Parafraseando Vinícius: me perdoem os chatos, mas simpatia é fundamental. Gente que não escuta, metralhadora de histórias de si mesmo, narcisos 24 horas, sofredores profissionais, pedinte que cultiva a própria ferida, buracos negros de atenção, me perdoem... mas simpatia é fundamental. Arrogantes, grosseiros, olhando o mundo como um restaurante onde todo outro é garçom, permanentemente infelizes com o atendimento, mal-humorados de plantão e seu incômodo perpétuo, me perdoem mas simpatia é fundamental. Fominhas, psicopatas sociais avançando pelo acostamento, chatos recortados do todo, da natureza, do coletivo que detonam o clima não só do jantar mas do planeta... me perdoem mas simpatia é fundamental.  Depois de tanta fome, miséria, peste, guerras e tanta evolução humana, ser chato ficou insustentável. Saiu de moda em definitivo. Seja você genial, rico, poderoso, um poço de sensibilidade, filho do dono, o dono, a vítima, seja você doente, lindo ou feio de dar dó:  acabou a permissão para ser chato. O planeta e suas violentas convulsões em busca da sobrevivência baixou decreto irrevogável: chatos devem buscar terapia. Empatia e maturidade são essenciais à sobrevivência da espécie. Não há mais tempo para os showzinhos barulhentos do ego. Aliás, me perdoe Vinícius, mas feias são as pessoas bonitas perdidas em seus próprios umbigos. Ou melhor: não me perdoem, me chamem de intolerante, me evitem, mudem de calçada. Fiz aniversários demais pra ser condescendente com a personalidade do chato se espalhando feito gás sobre o meu jardim. Enxergar-se é tão vital quanto respirar. Passou o tempo de poder ser chato, passou da hora de ser redondo como a Terra.

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