Acorda, princesa

Atenção gatas borralheiras! Vocês docemente aquecidas pelo fogo do abandono. Atenção companheiras do rabo do fogão, do piso infinito do castelo que nunca brilha o suficiente, projetos de princesa esperando um sujeito com um sapato perdido na mão. Atenção amigas de borralho porque a notícia é quente. Não tem sapatinho de vidro. Já ouço vossos suspiros desesperados. ÓÓÓ! Não tem. Não adianta esticar o pé pra cada sujeito que passa. O pobre sequer está dando conta de pagar o capim do próprio cavalo. Não é prioridade dele enfiar nada no seu pé. Ele está focado em encontrar uma podóloga barata para si mesmo. Atenta, parceira do quartinho do fundo do castelo: o cara não vem! Te salvar, te acolher, te reconfortar, te inspirar, te amparar, te impulsionar, segurar a sua mão, te arrancar desta vida miserável em que você é vítima de um mundo madrasta. Não vem. Ele está agora na terapia entendendo que nunca foi príncipe. Descobrindo o peso da coroa masculina. E nós aqui, muitas de nós, amontoadas, espremidas, dividindo a corrida no Uber abóbora na estrada da eterna ilusão romântica. Acorda! Abre mão do calor desta brasa fake. Desapega desse pano de chão que é sua bandeira de mártir. Não espera mais essa princesa. Você não precisa de sapatinho. Volta lá no começo da história, na essência, na criação, na origem, na sua matéria prima. Você nasceu nobre. O sapatinho é só uma distração.

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