Luz de Volta
Refletir é uma dádiva, um serviço
que prestamos ao mundo. Pessoas que não refletem, são como espelhos turvos, sujos
de verdades defensivas e medos. Não prestam para o outro. Pessoas ameaçadas não
são reflexivas: reagem em vez de refletir. Não permitem que o de fora, invertido, entre
em si por uns vitais segundos. Defendem-se. Querem refletir o igual onde estão
seguros e o igual não existe no mundo dos espelhos. Alérgicas ao universo
invertido, que não sabem ser elas mesmas ao contrário, vão se tornando mais e
mais reativas e embaçadas quanto mais rica e diversa a paisagem. Ser reflexivo
é relaxar, jogar as armas fora, deixar o outro se exibir, ser silencioso como
um espelho para que o interlocutor se esparrame no silêncio até escutar a
própria voz. Refletir é primeiro calar a boca e o pensamento: apenas permitir que a
imagem, a mensagem do outro entre e se espalhe. É acolher, deixar assentar, é
poder absorver parte e devolver o resto ao mundo. Dar a alguém a oportunidade
de se enxergar, gera transformações mais poderosas do que opiniões ou
conselhos. E é imensamente mais caro e mais necessário e mais sábio do que
falar. Em qualquer pequeno e mudo espelho de mão todo o universo cabe. E só aquele
que reflete é infinito por dentro e capaz de devolver luz ao mundo.
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