Ser Político
Sou um ser político. Me esforcei para estar hoje nesta
condição dolorosa em meu país. Como mal, durmo mal e acordo angustiada. No meu
país não há muitos seres políticos. Faltou estímulo e espaço para que
crescessem. Não aprenderam a debater nas escolas onde deviam obedecer e ficar
calados. Não aprenderam a beleza da
divergência que para eles sempre soa como perigosa. Acostumados a esperar a guiança
de uma autoridade, acabaram dependentes de figuras ególatras hiperdimensionadas.
Se incomodam com uma correção e sentem-se mortificados com uma crítica. Aliás,
no meu país, políticos não assumem erros e não pedem desculpas. Não podem. Não
existem seres políticos em número suficiente para compreender estas humanidades,
só filhos de um pai intocável que manda. E como políticos erram, decidiram simplesmente
dizer que não erraram, e tudo bem. Os filhos adotam um silêncio cúmplice ou
simplesmente repetem as desculpas esfarrapadas do pai para algum crítico incauto.
E seguimos nos enganando em paz. No meu país não somos criados para sermos
co-responsáveis mas cúmplices ou vítimas. E calamos diante dos nossos líderes escolhidos
numa estranha veneração que eles nunca pediram. No meu país ficamos agressivos se o outro
encontra um jeito de ser feliz usando regras opostas às nossas. Afinal, nunca
nos sentamos para debater diferenças, nem na escola nem na mesa do jantar, como
saberíamos acolhê-las? E como há poucos seres políticos, as contradições foram
banidas. Existe o bem e o mal que devem permanecer isolados em suas caixas para
não corrermos o risco de amadurecer. E eu,
definho nas certezas que me alvejam de todos os lados. Quero a correnteza e não
a fôrma de fazer gelo. Sou um ser político: meu caminho é a dúvida.
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