Amém

Eu fui catequista. Tinha meus 12 anos. Ensinava a crianças menores o catecismo que eu mesma não conhecia muito bem. Ia sozinha à igreja, melhor quando ela estava vazia. O padre, os fiéis, a liturgia da missa, me incomodavam. Na igreja silenciosa sim, encontrava Deus. Sigo dispensando atravessadores e intérpretes entre mim e o divino. Pertenço a civilizações humanas arcaicas onde Deus estava em tudo o tempo todo. Deus era a água, a árvore, a pedra, o bicho. Então nasci misturada com Deus e não preciso de rituais para falar com ele, nem pontes. Deus é esta imensidão inexplicável aqui e agora, é o amor como guia, é minha união total com tudo que há. Dispensa rituais de conexão, cabines telefônicas de falar com Deus. Não marca comigo num local e horário da semana: está vinte e quatro horas online. Mas entendo os que se ajoelham no templo, os que juntam as palmas das mãos e rezam, os que cantam e dançam olhando para o céu, os que precisam de um pai na terra, menos metafísico, mais carne e osso, para se conectarem ao divino. Porque o seu divino se fez distante num cotidiano mecânico e sem alma e foi colado num céu muito alto pra quem se acredita sem asas. E lamento que nesta distância que se fez entre o humano e o divino, instalem-se barraquinhas de falar com Deus, telescópios de ficha para ver Deus, poderosos e iluminados com acesso VIP a Deus, manuais de como ser filho de Deus, ególatras escolhidos, intolerantes,  assassinos em nome de Deus, e tantas outras porcarias humanas. Apenas encho o pulmão de ar e Deus vem junto. Sem clarão, sem trono, sem parafernálias custosas. Poderosíssimo. Dentro de mim.
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