Para o meu fantasma

Adeus e obrigada. Foi bom girar nos seus braços nesta valsa inesperada. Obrigada pela Duquesa, pela Gata Borralheira, pelo pai e pelas crianças minhas que você nem sabe que me deu. Obrigada pelo espelho onde pude pentear a minha vaidade, pelo lugar de destaque na sua corte que pude chamar de pouco. Foi doloroso ver meu tirano no seu, mas foi como um parto. Dor valiosa de onde nasci novamente. Obrigada por tudo que você nem sabe que foi. Por ter ido tão fundo em mim sem nunca ter deixado a superfície das suas vontades. Por ter me notado. Por ter chamado meu nome. Por ter evitado o meu mergulho e me devolvido a mim. Coloco este agradecimento e este adeus numa garrafa e lanço no rio de nome universo. Incógnita, me despeço. Remeto este adeus agradecido à sua alma que há de me escutar numa dimensão distante. Adeus e obrigada pelas provocações de menino, por acordar o meu menino, por dançar comigo esta dança breve, desatenta, mas necessária. Verdadeiramente, obrigada, segue seu caminho. Abro o porta-joias onde guardei um fio branco do cabelo da sua alma e devolvo a você. Pode ir inteiro. Pode ir pra sempre. Está tudo compreendido pela sabedoria do amor que não precisa de tradução. Pega estes olhos de mar e lança rumo a outras praias. Recebi a mensagem para sustentá-la e não para resolvê-la. Vai, você é livre. Também estou inteira nesta dor. Não há dívida, só uma pequena pontada entre os seios que vou chamar de saudade. Mira o longe e caminha para o nunca mais. Ajeita, num cantinho da mala, legado de mim, apenas duas palavras: adeus, obrigada.
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