O amado e odiado outro

Teu nome é porta. Mas te chamam outro. Se sabemos olhar-te bem lá no fundo, te chamaremos porta. Tu nos trazes em gesto e verbo as dores que escondemos. Vemos no teu corpo, nossas feridas. No teu mal, o nosso mal. E isto te faz divino e mestre dos que te sabem ler. Quando pisas, maltratas ou ignoras, és professor dos que buscam a mensagem e demônio dos que escolhem não se ver. Tela de projetar mágoas. És o que fere, o que não alimenta, o impossível, o maléfico. Instalas-te feito bode nas salas dos alienados de si destruindo tudo. E viras assunto eterno com os amigos das vítimas. Ocupas delas toda a cama, todo carro, toda mesa, toda história, todo coração. E te chamam outro. Mas eu te chamo porta. E mais te amo e te odeio quanto mais cartas me trazes do universo. És tão monstro quanto o tamanho que me é dado crescer depois de ti. És o inferno e eu te chamo mestre. Se me maltratas, ensina-me a cuidar-me. Se me abandonas, faz me enxergar meu colo. Chamam-te parente, amigo, namorado, amante, chefe. Chamam-te de nomes horrendos. Mas já desvesti todas as tuas máscaras e aprendi que teu nome é escola.  
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