Ganindo Baixinho

Vai amigo, vai latir para as nuvens, vai dar saltos e fazer suas cabriolices para o deleite de Deus. Vai guardar os portões do céu com aquela firmeza e dedicação que você guardou o portão da nossa casa no dia em que o esquecemos aberto. Vai meu amor, chorar seu latido engraçado na porta das cadelas-anjo no cio que era quase uma fala de personagem de desenho animado e fez tantas vezes a gente esquecer as durezas da vida e sorrir. Vai viajar ao lado do sol na sua carruagem de fogo com aquela pose imponente de vigilante atento que você tinha ao passear de carro com a gente no banco do carona. Vai sentar e dar a patinha para São Pedro que ele há de ter um biscoito pra você em sua túnica. Vai meu filho preto, tomar conta dos anjinhos bebês com o carinho que você sempre teve para os filhotes de bicho e de gente e afugentar a maldade com seu semblante imponente de compenetrado guardador. Nós ficaremos aqui um pouco menores, encolhidos pela saudade, com o nosso rabo entre as pernas por um tempo e a nossa alma carregada de gratidão porque um dia Deus foi generoso e você veio. Pra me lembrar diariamente que sou apenas um animal sem pelo. Pra me mostrar que o amor é o que vale a pena. Amor irracional, amor sem cobrança, sem expectativa.  Feito só da presença pacificadora de quem se ama. Por isto amanhã me deitarei sobre seus panos, dobrada sobre meu ventre, no seu vazio. E ganirei baixinho. Mas não se preocupe mais comigo. Se liberta amigo, vai lamber a orelha de Deus.
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Comentários

  1. Lulão... Ainda bem que consegui me despedir de você... O "cão que sempre foi uma mãe", agora um anjinho... Sem mais.

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  2. Mais algumas lágrimas escorrendo aqui nos olhos de quem acabou de ler esta carta de despedida... Linda!
    Vai saber se ele já não está lá com teu pai e tua mãe. Guardião. Iluminado.
    Te amo, Safo!
    Paula Nigro

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  3. Saudade dói, machuca a alma já cheia de hematomas pelas lambadas que vamos recebendo. E a partida de um grande menininho faz sofrer, chorar mais um pouco e continuar coxo, pela falta de mais um anjo guardador, que abanava o rabo feliz, quando eu chegava. Saudades e desejos de campos floridos e belos para vc correr liberto de amarras, LINDO!
    Eu, um cão sentindo a falta de outro:
    Chico Neto

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