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Mostrando postagens de março, 2012

Alguma coisa acontece no meu coração

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Helio Ishii Ir embora de São Paulo. Sonhamos eu e minha empregada.  Pobre cidade passagem, cidade grana, cidade sem filhos. Oásis de fartura obrigatório para nordestinos e mineiros como eu.  Onde tudo acontece. Chegamos e amamos São Paulo mas queremos deixá-la. Amamos a cidade canalhamente. Nosso lugar é lá de onde viemos. Lá a esposa. Aqui a amante excitada, barulhenta, colorida, imensa. Lá o berço quente. Aqui montanha-russa. Toco meu carro pelas veias acidentadas de São Paulo esbarrando na loucura coletiva dos motoristas. No trânsito de São Paulo, desacredito da civilização humana.  Somos o pior de nós. Prédios brotam feito erva daninha nas margens das ruas sufocando São Paulo. Ninguém se importa. Cidade especulação, todo mundo quer arrancar dela até o último centavo.  Já não aguenta, já não suporta, mas os homens querem mais. E ninguém a defende. Há tempos os prefeitos de São Paulo também estão de passagem. Abraçam a vitrine inigualável e evitam seu lado aberração monstruosa.

Esperando o assalto

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Esperamos o assalto. Eu, você, todo mundo. Estamos tensos, paranoicos, esperando o assalto. Virou feijão com arroz. Tem um monte de neguinho que trabalha e assalta nos dias de folga. Não, não é uma piada. Assaltar é legal, assaltar vale a pena. Cadeia não tem, justiça não tem. Assaltemos.  No meu bairro, levantam uma casa por semana. E parece que, graças a Deus, são profissionais. Ser assaltado por amador então é o requinte da desgraça. Arma na mão de um idiota nervoso  pode ser um tiro inútil na cara. Com sorte: na sua cara e não na do seu filho. Então, reze para que o seu assaltante esteja calmo e bem preparado, que ele tenha passado por um treinamento, que ele tenha ido à sessão de terapia naquela semana. Reze porque é o que resta. O país melhora economicamente mas o número de assaltos cresce. Porque crime aqui é instituição, tem hierarquia, tem produtividade, tem metas a cumprir, tem até criativos que bolam o esquema da vez. Crime é cultura. E va-le-a -pe-na.  Chega de se iludi

Bipolar

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Estou meu lado A. Esta semana, estou a mil. Acordo com uma gana incontrolável de realizar todos os meus projetos e saio dando pernadas na vida. Tenho dezessete anos, no máximo. Posso tudo...

Cansei de Safári

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E chega o momento em que escolhemos fazer o concurso público. Na frente: o vazio, o abismo. Ao lado: os filhos. E abrimos espaço para considerações antes dolorosas. Estamos menos heroicos e menos dispostos, e a dor foi mudando de endereço. A fama e a riqueza não compareceram nesta encarnação e começamos a duvidar que aquele prêmio da loteria possa mesmo cair no nosso colo. E nós, que nos pretendíamos um quadro de Gaudi, passamos a considerar as delícias de ser um porta-retrato, quem sabe um grampeador. A estabilidade vai crescendo em nosso sonho como trepadeira no verão. Uma sala com paredes descascadas, pedacinho nada glamouroso de concreto, mas onde se possa simplesmente permanecer fazendo algo deliciosamente simples e burocrático. Juntar papéis, preencher fichas, analisar documentos, digitar dados, fazer cópias numa monótona máquina de Xerox que canta sua musiquinha repetitiva.  Porque chega o momento em que este negócio de matar um leão por dia fica chato e você descobre que a vi