Move

A nada leva o fazer se é sobre a brutal necessidade de ser outro. A nada leva o fazer se ele esconde a impossibilidade de estar. Se é sobre fugir.  Se é sobre desamor. A lugar nenhum leva. Me arrastar na poeira é meu não ir. Agarrar minha menina pela gola do vestido e obrigá-la a olhar para o que falta é meu não ir. Fazê-la mover-se pelo pavor de quem ela ainda não é ou não pode mais ser... é o meu não ir. Viver de sustos. Meu não ir. Mosca se debatendo e se desgastando contra o vidro muito limpo e transparente da neurose. Fazer-me andar porque nunca basta, nunca estou inteira, nunca estou pronta é meu não ir. Não é sobre pós-graduações, especializações, diplomas, atestados de valor. Não é sobre reconhecimentos ou um corpo mais magro. É sobre, já senhora de tantas histórias, aprender o prazer de conduzir-me com doçura. É sobre o cuidado de dizer a mim mesma que nada devo e pode ser leve. E será tudo desde que seja de veludo e será nada se for de novo marcando a pele. É sobre deixar na beira da estrada a mártir que conquista a praia mas nunca entra no mar, nunca goza ao sol. Não é sobre o que fazer. É sobre não lançar meus pés delicados no caminho das pedras. Já dei ao mundo provas infinitas do meu poder de me mover dor afora. Estou chamando o universo para outra conversa. Posso ir até a lua, posso não passar da esquina, posso ficar gigantescamente quieta aqui onde sou, mas estou avisando às estrelas: daqui pra diante só o amor me move.

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