Meio Ovo
Nunca está bom. Sempre falta. Olho cheia de inveja para o jacaré no banco de areia no meio do rio. Plácido. Não falta nada. E quando falta é tão simples, tão reto. Mas eu caí na esparrela de vir ser humano. Um bicho cheio de receitas de ser. Para mim falta tudo. Acordo de manhã precisando beber menos, ganhar mais, encontrar o melhor corte de cabelo, fazer algum curso, meditar, respirar usando o diafragma, ser mais positiva, comer mais ovo, comer menos ovo, comer meio ovo, comer dois ovo, não errar o plural de ovo. Estou sempre errada, inadequada, devendo. Não consigo simplesmente apoiar a barriga no banco de areia e olhar o céu. A barriga que apoio no banco de areia é grande demais, é flácida, é um corpo estranho plasmado no meu abdome, um continente ou conteúdo psicanalítico que não cala e não me deixa em paz. Não sendo um jacaré, preciso evoluir sem descanso: encontrar minhas sombras, desvendar meus traumas, buscar a iluminação mas, claro, com humildade, não muita humildade que pode ...
Tão bonito. A Eleonora tem razão qdo fala tão bem do seu texto. Sylvia Manzano
ResponderExcluirObrigada pela visita Sylvia. Venha mais vezes.
ExcluirEu venho sp, nem sp, porém falo alguma coisa. Vc diz verdades tão acabadas, q fico em silêncio, admirando apenas.
Excluirlágrimas, lágrimas e mais lágrimas... acho que fiquei com saudade do meu pai também... pai passarinho e pai peixe, que nunca me levou nem pro céu nem pro mar, apesar do brevê e da carta de capitão amador, pq uma vez levou minha irmã mais velha para velejar e ela passou mal... era muito intolerante o meu peixe-pássaro pai... viveu sozinho as suas aventuras e se gastou logo, voltando a habitar mar e céu ao mesmo tempo, talvez realizanod seu sonho de dissolução...
ResponderExcluirai vc, nana, sempre me fazendo sentir!
Pessoa linda que eu amo de montão e tenho o prazer de conviver... Bjo!!!
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