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Mostrando postagens de setembro, 2023

Enfim, só.

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Vem solidão sem disfarces. Estou abrindo mão das distrações...  do barulho que o outro faz, da solução que o outro não é. Sou um bicho exausto em busca de um oco. Outros carregam expectativas e promessas, eu ando vazia de entregas e esperas.  Vem solidão nesta maturidade calma. Vem  que iremos jogar cartas madrugada adentro. Vem que, enfim, tenho os braços abertos de te abraçar e deixar o outro ir. Já posso me acompanhar de palavras e cachorros e não dói a mais. Vem solidão experiente, imune à panaceia dos romantismos. Vamos tomar um chá quente ou um vinho frio catando histórias numa tela de LED luminosa. Vamos chorar as misérias humanas sentadas no sofá com todas as luzes da casa apagadas. Vamos dançar abraçadas e levemente bêbadas, desvendando a grande enganação que chamamos de realidade. Vem solidão sem fantasias de completitude, solidão pedra fundamental, solidão estruturante, original, celular. Vem que o tempo me ensinou a sua paz. Vem que já estou velha o suficiente para amar-te.

Boia

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Boia, criatura. Não salva o mundo, nem salva a si mesma. Boia. Não responde nada às esfinges, senta no chão do labirinto e esquece a saída. É tudo labirinto. Boia, criatura, que nem todo tempo é de nadar. Solta o corpo na superfície do mar. Solta a mão dos seus sustos. Quando o relaxamento é verdadeiro, a gente não afunda. Água e corpo sabem negociar na leveza a entrega sem afogamento. Boia sem nem inventar praias próximas. Acata esta hora de não ir, de não saber, de não ter, de só estar. Confia no oceano. Boia. Está tudo certo como é. Às vezes é pausa, às vezes é nada, às vezes é silêncio. Aprende a não chamar sempre e a existir quando não há escuta, não há estrada, não há porta, só há espera. Não dê braçadas, não mergulhe, deita esse corpo tenso e triste sobre o colchão de água e fecha os olhos. Nem do céu você precisa agora. Sente o balanço doce da água densa que te leva para um destino que só ela sabe. Não saiba, criatura. Tudo é beira de abismo, o meteoro pode estar a caminho ou a

A que não é

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Escolho me embebedar e escrever. Sozinha. Eu, a garrafa e a folha digital. Descarto as coisas de fazer gente feliz: o amor, os filhos, a realização profissional. Descarto. Abraço minha sina só. Escrever. Pensando bem eu deveria estar fazendo algo mais normal para uma mulher da minha idade. Não faço. Não penso. Não busco o que não tem de haver. Encho a taça e brindo comigo ao silêncio desta casa vazia. Brindo à minha coragem na solidão desta noite. Não espero. Não almejo. Encaixo a taça de vinho entre os lábios pacificados e engulo meu presente. A casa se esforça num silêncio fundo. Só o som dos meus dedos no teclado denuncia alguma vida a se cumprir. Sorvo outro gole. A embriaguez me salva de um mundo assustadoramente desinteressante. Me instalo uns metros acima da lucidez. E entendo que, de verdade, não quero mais nada. Me perdoem os que planejam, os que almejam, os que anseiam... Eu não quero mais nada. Brinco de estar quando nem existo. Brinco de coisas de fazer gente feliz e invent