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Mostrando postagens de agosto, 2020

Cai o mito

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Tem alguma coisa pra você carregar dos destroços da queda recente de grandes mitos. O guru, o milagreiro, a salvadora de criancinhas da favela. Tem um pedaço grande do quebra-cabeça do seu rosto nestas tragédias.  Algo que você irá reconhecer como seu. E que, se não pegar, nos fará seguir juntos arrastando a cruz pesada desta ilusão evanescente de civilidade. Existe uma mensagem pra você na caixa postal do destino remetida pela história sobre a maldade inerente ao humano e o perigo de desconsiderá-la ou tratá-la como sufocável. Maldade sufocada engrossa as raízes e cresce para dentro. Existe uma mensagem lá sobre sua mania de alimentar mitos e sufocar maldades em barragens que sempre explodem e mancham de mal até o que não é. E nem todos irão abri-la. Minha amiga evangélica disse que a partir de agora quer falar com Deus de um jeito menor, diretamente, quando encostar a cabeça no travesseiro a noite. Sem supostos semideuses no caminho. Ela abriu a mensagem sobre encontrar o urgente ref

Sem Perder a Elegância

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Me resta ajeitar a vida possível com alguma elegância. No final das contas, aprendi que é o que importa. Aquela sutil elegância preservada na trajetória acidentada, sobrevivente de tantos tombos. Está lá apesar da pele cada dia mais flácida e do excesso de peso que assumi perene. Uma calma diante da tragédia repetitiva que teima em voltar para a vida esfolada do pequeno cidadão brasileiro. Povo acostumado a quebrar a própria cara. Eu e a mania masoquista de estudar história. Mas esta condição de nascimento não me fará perdê-la: a sutil elegância, o delicado charme na dor. É o que me resta e devo cultivá-la. Nada de gritos, ataques de fúria, nada de revoltas que desalinham os cabelos. Não sou amadora na frustração, sou brasileira. Pego minha flauta e me junto à orquestra do Titanic e tocamos enquanto parece afundar eternamente. Moramos na distopia, nem sabemos o que é ter chão. Mas não importa. Preservo no rosto, com uma dedicação monástica, a expressão blasé dos desencantados. Às vezes