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Mostrando postagens de outubro, 2021

O Sabiá e a Pitanga

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Veio a ventania e levou a menina. O vento abraçou, tirou do chão e levou rodopiando no céu feito uma valsa. Assim me contou um passarinho que viu. Quando cheguei, já ia longe, uma manchinha colorida no céu. A menina nos braços do vento. E eu, que tinha ido me buscar nalgum canto, quando voltei, outro pedaço de mim havia partido. Feito um dente de leão cheio de histórias, a alma da menina foi se replantar em outro plano. No começo, gritava ao vento que a devolvesse. E tive raiva dos dois porque sabia que ela havia consentido na dança. Magrinha que era, bem podia ter se agarrado em qualquer trem. Nada. Deu os braços pra ventania, passarinho me disse. Aqui nesse planeta, achava que os pés queimavam no concreto. Com o tempo, o chão esfria, eu falava no ouvido dela. Te levo um pouco no colo. Não quis.  Partiu, súbita, feito bexiga de gás escapulida da mão de criança. Pediu ao sabiá que me visitasse de vez em quando, mas de forma que ficasse explícita a presença dela. Passarinho se esforçou.

O Eterno Retorno

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Te ocorreu fazer uma postagem ofendendo alguém? Tão rápido, tão fácil, tão ao alcance dos dedos num teclado. Vá lavar uma roupa, organiza uma gaveta, varre a frente da tua casa. Que passa. A maldade está em ti e em mim: o ódio que mama nas nossas frustrações. Não é sobre calá-lo. É sobre não atuar em seu nome. Te ocorreu escrever uma frase infeliz que machuca o outro nas tuas redes sociais? Tão rápido, tão fácil vomitar uma agressão. Vá ajudar alguém, pode ser da tua turma. Espera passar teu lado vil, tua faceta mesquinha, machucada, vingativa. Vai lavar aquelas vasilhas empilhadas na pia. Não te peço que sejas um santo. Eu não sou. Dependendo de quem tu és, sou capaz de desejar-te coisas terríveis. Sou humana, sou capenga, estou em treinamento neste plano. Mas pelejo bravamente para não jogar uma folha seca na fogueira do mal. E bato mais pesado quando me coloco na frente da minha vontade de machucar, e sou mais forte do que quando bato escravizada pelo meu mal. Te satisfaz a procissã