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Mostrando postagens de setembro, 2015

Gol da Alemanha

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A amiga vai embora com a família. Outro país. Este aqui não deu. Cansou de arrancar patriotismo do intestino grosso. Foi consumida pela mortal simbiose entre os estúpidos e os canalhas que faz do Brasil este negócio inviável, este lodo eterno, esta modorra. Não suporta mais. E depois, tem filho pequeno, agoniza na probabilidade cada vez maior de que um bandido escolha seu carro no engarrafamento com a criança presa ao cadeirão. Pensou em colocar película nos vidros, quem sabe até blindar o auto, mas a hipótese a deprimiu. Não aguentou se preparar com tanta certeza para a porrada, mais e mais e mais uma vez no cotidiano pesado, escasso e violento da cidade.  Vai embora para um país de verdade, destes onde se pode andar pelas ruas com o vidro do carro aberto. Exausta e descrente após constantes e covardes ataques dos homens que gerenciam a nação. Canalhas de terno brincando de poder. Homenzinhos e mulherezinhas sem compromisso com a própria história, muito menos com a nossa. Exausta e

O Bem Sem Glitter

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O pior aconteceu: o ser humano aprendeu intelectualmente o valor do bem, do amor, é uma moeda, é uma máscara. Todo mundo ficou subitamente bom e legal. Todo mundo ficou sensível. Por que o ser humano já sacou: o sensível, o consciente, o iluminado, é o cara superior. Eu, por exemplo, sou superior pra caralho. Desculpem o palavrão, eu sei que alguns de vocês acham que me inferioriza usar palavrão, mas estou sendo honesta, transparente, e isto, colegas, também me faz superior. Permaneçam alguns minutos nas garras da minha intelectualidade e posso provar esta minha tese. E amanhã seremos todos autênticos e vamos falar muito palavrão e nos faremos novamente superiores. O discurso do bem é uma criação da mente. E minha mente faz milhares de flexões intelectuais por dia, ela é foda, eu tenho um cabeção Schwarzenegger. Sei todos os truques para parecer legal e uso, às vezes, um ou outro, e me percebo usando, e rio do meu blefe. Sou mais uma no meio da horda de gente legal. Aqui e ali brota

Procura-te

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Segues insistindo no outro: na culpa do outro, na responsabilidade do outro, no desamor do outro, no abandono do outro. Segues com a cantilena estéril da vítima. Segues esperando que o outro te resolva, te absolva, te salve. Não miras nas tuas ausências, mas na presença de outra na foto ao lado do outro. Não vês que és tu que faltas nas fotos que querias ver? Tu faltas até nas tuas frases onde impera o outro e seus objetos. No meio deles, dos objetos, vislumbramos tu e tua espera eterna do outro. Quando ele virá? Quando ele poderá? Onde ele irá? E reclamas. Não és mais tu, és a que reclama do outro. Não percebes que nada colocas na tua falta, nem uma muda de alecrim na horta seca e esburacada? Nem podes ir ao quintal espiar tua horta, pois estás obcecada em vigiar os planos do outro. E, assim, alimentas teu próprio egoísmo travestido de dor. Sim, és egoísta também só que às avessas. Podias ir ao outro e simplesmente dizer: este é o limite, esta sou eu. Mas queres jogar o jogo da dor.