Gol da Alemanha
A amiga vai embora com a família. Outro país. Este aqui não deu. Cansou de arrancar patriotismo do intestino grosso. Foi consumida pela mortal simbiose entre os estúpidos e os canalhas que faz do Brasil este negócio inviável, este lodo eterno, esta modorra. Não suporta mais. E depois, tem filho pequeno, agoniza na probabilidade cada vez maior de que um bandido escolha seu carro no engarrafamento com a criança presa ao cadeirão. Pensou em colocar película nos vidros, quem sabe até blindar o auto, mas a hipótese a deprimiu. Não aguentou se preparar com tanta certeza para a porrada, mais e mais e mais uma vez no cotidiano pesado, escasso e violento da cidade. Vai embora para um país de verdade, destes onde se pode andar pelas ruas com o vidro do carro aberto. Exausta e descrente após constantes e covardes ataques dos homens que gerenciam a nação. Canalhas de terno brincando de poder. Homenzinhos e mulherezinhas sem compromisso com a própria história, muito menos com a nossa. Exausta e