Legumes no Copo
Jantávamos. O ritual de sempre não fosse o copo de vidro cheio de legumes ao lado do meu prato. Fitei perplexa a instalação vítreo leguminosa e busquei no marido e filhos uma explicação para o evento desconexo. O marido balançou a cabeça, incrédulo. Minha filha apontou com o dedinho o autor da façanha: eu. Imagine muitas reticências, milhares delas, que comportem o silêncio onde paralisei ao descobrir que alguns segundos da minha vida haviam sido apagados. E pior: segundos absurdos onde um ser com minha pele, músculos, ossos, órgãos, meteu cinco a seis legumes dentro de um copo de vidro transparente. Rimos. Mamãe está maluca, disse eu para a pequena. Está ficando velha e gagá, reiterei. Ela riu. O jantar seguiu seu rumo sem novas ocorrências exóticas. Mas o breve apagão mudou-se feito pulga para as veredas posteriores da minha orelha. No caos absoluto do vai, faz, corre, pega, tira, muda, liga, desliga, compra, põe, acha, marca, desmarca, aperta, aperta, aperta... brotou um branco p