Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2022

Simples

Imagem
Não combinamos que seria fácil. Porque fácil não era palavra importante. Tínhamos planos maiores. Combinamos de retornar-te ao simples que é muito além do fácil. O simples, lembra? Aquele avesso precioso do complexo? O complexo aceito, abraçado, digerido. Você estudou o jogo por muito tempo e elegeu nele suas escolas da vez. Olhamos juntas para a tela tridimensional chamada vida. Você projetou nos meus olhos o seu roteiro, fizemos ajustes, você partiu. Sem precisar do fácil que seria lembrar-se de quem você é. E brotou na tela tridimensional vinda do nada. Como se existisse nada. Segui o nosso roteiro e você, esquecida do antes, me odiou várias vezes. Enveredou numa sequência de complexos buscando um suposto fácil que te salvaria. Uma coisa que sabemos: não existe. Então, te vejo esmurrando as paredes do labirinto. Exausta de tentar saídas. E a saída não está no labirinto, não está na dificuldade que te distrai. Está no simples de que não existe o labirinto de fato. Ele é feito de átom

Espera

Imagem
Há uma escada escondida num canto da sala. Desça até o último porão. Haverá um  longo corredor de luzes fracas, algumas queimadas. Siga até o fim onde uma porta espera semiaberta. Atravesse para o quarto onde ela tece. A senhora de dedos enrugados e tortos e cabelos brancos em desalinho. Tece e desfaz seu tricô: um mesmo sapatinho de menina. Tece e puxa o fio quando está quase pronto. Digam a ela que acabou. Que pode enfim deitar-se no chão e esfriar. Que pode seguir para o descanso na luz. Que pode correr para o infinito, para os olhos da filha. * * *

Acabou-se o fim

Imagem
A estrada acabada e eu andando em calma sobre o nada. Sobre o nada que eu sentia no caminho que inventava. No que dava. O passo firme sobre o abismo para o abraço da morte. E na morte do apego, o fim do medo. E, no sumiço do chão, minhas asas. E no vazio do coração, minha nova casa. O fim chegou e era mentira porque nunca acaba quando o pulmão vira alma e a alma respira. Nunca acaba de fato quando o amor não cabe e derrama. Pois amar é água que segue sua trama abrindo frestas, mergulhando poros, deitando leitos. Nunca acaba se não vira mágoa na estrada que não era. Acabou, mas sigo em frente carregada nos braços daquela que morre, se aduba e regenera. E sabe que a rota é sempre desconhecida. E corre de olhos fechados. E, mesmo quando achava, não estava perdida. * * *