O Ogro
Ciruelo Cabral Acabo de sonhar com um homem feio e gordo e barbudo que nu, deitado em minha cama, abria os braços para mim. Um ogro que me queria, me olhava com olhos pedintes, e me fazia estranhamente compadecida. Acariciei de leve o homem e cogitei me entregar a ele num gesto de piedade. Mas o ogro feio e repulsivo queria ser amado e tinha estes olhos que imploravam amor boiando numa impensável doçura. Como amá-lo não podia, afastei-me dele cuidadosamente como quem abandona um cachorro na rua e dei-lhe as costas pesadas de dor. O gordo feio e suado baixou a cabeça, os olhos tristes, foi mergulhando em seu lar escuro e eu corri para a luz determinada a acordar. Acabo de acordar e te digo que, desgraçadamente, de nada me serviu. O gordo feio continua aqui pesando sobre meu corpo com sua desproporção incômoda e sua carência desconfortável. Posso senti-lo ao meu lado na cama vazia fazendo um vinco fundo no colchão para dentro do qual escorrego. É minha sombra obesa sacrificada ao si