A cada ano que passa caminhamos, levados pelos braços da dona ciência, para uma velhice mais longa. Vamos, obrigatoriamente, viver mais. Há uma determinação científica de não deixar que a gente morra. Então é preciso dar conta de viver mais. Para os que morriam na Idade Média aos trinta anos, podia-se dizer que partiam no auge. Não será assim conosco. Quando enfim deitarmos no caixão estaremos muito, mas muito velhinhos. E apesar dos cremes e pílulas milagrosas, não será fácil ser velho. E talvez a gente precise ir se preparando para isso aos poucos, pagando uma aposentadoria para a alma, entendendo um motivo maior para se estar vivo onde caiba o velhinho que seremos. Porque vai chegar o tempo de ir se despedindo lentamente de tudo que nos ensinaram a chamar de poder. Exercício brutal e forçado de desapego daquela pele lisinha, daqueles cabelos castanhos, daquelas pernas ligeiras, daquela mão firme. Seremos mais lentos e o mundo não nos chamará tanto. E o telefone não tocará tanto