Meu Monstro
Meu monstro não vai mais brincar com o seu. Ele, às vezes, até quer fazer o joguinho do taca bosta um no outro com seu monstro. Ele olha saudoso para as próprias feridas obsessivamente descascadas e diz não. E volta pra dentro de casa. Por que aqui dentro ele tem pai, mãe e irmãos que o abraçam. Eles o aceitam, não querem mais eliminá-lo. Entenderam sua função, suas razões, negociaram com ele. Por isso, meu monstro topa não ir brincar de quebra-quebra com o seu. Não, ele não ficou bonzinho e ainda é capaz de coisas terríveis. Ele ainda quer alimentar o fluxo neurótico das relações. Mas prefere o meu abraço às suas porradas. Já não corre na minha frente, feito cachorro medroso mordendo todo mundo. Estremece, balança, mas fica. Não deixou de ser a minha sombra, mas me ensinou que na sombra também posso descansar. Infelizmente seu monstro não irá brincar só. Há tantos outros prontos para revidar o seu golpe, amargar a sua ingratidão, vitimar-se sob a sua total falta de sensibilidade.