Penso demais. Penso até acreditar que sou aquela que pensa. Descartes me perdoe: sou mais. O pensar em excesso polui minha existência com achismos, mágoas, paranoias, delírios de grandeza que vêm dela, a senhora mente. Ela reina na existência humana e fabrica incessantemente pensamentos para controlar o mundo: teorias e verdades. Fulano é assim e assado, preciso urgentemente fazer isso, mamãe fez aquilo comigo. Enquanto vagamos hipnotizados pela mente no mundo dos pensamentos, a vida presente se esvai. Não vejo a vida acontecer no aqui e agora: o calor morno do meu corpo, o vento balançando de leve as folhinhas do flamboyant lá fora, um passarinho cantando no caos urbano, o ar frio expandindo meus pulmões, sensação de estar vivo. Nada. Vagamos no passado ou no futuro pensando. É como uma máquina que nos controla e nos ilude. E ergue castelos e barreiras em torno do ego, guarda-costas feroz da individualidade. E passamos a acreditar que o pensado é o real. Não é. O pensado passa pelo fi