Non Stop
Minha vida free lancer me impõe tempos sem fazer nada. Pausas. Não sei como lidar com pausas. Sou fissurada pelo fazer. Existo em duas modalidades: estressada pelo excesso de fazer e estressada pela falta do fazer. Ficar parada me atormenta, me angustia. Como um equilibrista na corda bamba que é assaltado pela consciência do vácuo. Preciso preencher meu tempo com tarefas. Vou arrumar gavetas, estantes, mudar móveis de lugar. Ser útil. Tenho pavor destes momentos em que não sou útil. São como amostras da morte. Um dia minha atividade desaparecerá do mundo e a história seguirá alheia à minha inexistência. Que horror! E este telefone que não toca? Cinco dias sem que ninguém precise de mim, sem demandas, sem pressão. Sinto falta do cano gelado do revólver nas costas. Ponto torturante de equilíbrio. Não sei focar sem urgência. Tantas coisas eu queria fazer quando não tinha tempo, mas agora... A ansiedade não deixa. Poderia escrever umas páginas daquele meu livro... Não escrevo. Sentiria a culpa de estar me dedicando a um livro quando deveria estar desesperadamente buscando trabalho. Fantasio que nunca mais irão me ligar, serei esquecida e morrerei à míngua. Desperdiço o precioso tempo que a vida me deu criando fantasmas. Crise de abstinência de produtividade. Poderia tomar sol. Faz tanto tempo que não tomo sol. Não. Alguém passando de helicóptero poderia supor que sou uma perua, uma vagabunda, este tipo de gente que toma sol. Vou reorganizar uma gaveta. Me fazer respeitável até que o turbilhão de trabalhos me engula novamente.
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Quanta coincidência com minha vida de free lancer tbm, acho que é o nossa sina.
ResponderExcluirSabe o que vc pode fazer, vai até uma repartição pública, ou um banco, e veja a expressão dos funcionearios. Vc vai voltar feliz e satisfeita pelos vácuos da nossa profissão.
Não tema em ser perua não, recarregue as energias para o próximo turbilhão.
Bjs
Lú
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