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Mostrando postagens de outubro, 2010

Às compras?

Preciso comprar umas coisas. Umas coisas essenciais na minha vida como um outro celular. Sim, este que tenho está arranhado no visor, uma lástima. Sempre que vou atender e olho para o arranhão no visor, percebo o quanto sou infeliz e o quanto preciso comprar alguma coisa do tipo um celular talvez ou qualquer outra coisa. Abro um site borbulhante de produtos e fico ali escolhendo uma droga que me anestesie por um dia ou dois. A chatérrima voz da sanidade me incomoda com suas reflexões ponderadas que informam quanto é minúsculo o arranhão no meu celular. Espanto estas vozes-moscas com a mão. Tiro meu cartão de crédito da carteira, como se fosse uma seringa cheia, e sinto nas células o frisson antes da picada. Alguns toques no teclado e lá se vão meus dados atrás da droga. Estico bem o braço e afundo a agulha do consumismo até o osso. Submirjo no delírio da compensação. Agora posso voltar ao trabalho e ficar lá mais tempo do que quero, aceitando mais do que posso, afinal, em uma semana, t

Esperando

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Estou aqui sentada esperando Safo, mas ela não vem. Resolvi provocá-la com palavras iscas e tentar arrancá-la do profundo onde mora e de onde sai quando cisma, feito baleia que salta maravilhosamente assustadora na frente do nosso barco.  Mas ela não vem. Então sinto-me só e pálida, dona de frases vulgares e uma preguiça mortal de escrever. Porque Safo é aquela parte visceral e espontânea que carregamos, eu e você, e não vem feito cachorrinho quando a gente chama. Pior se você chama alto, porque é mais fácil que ela venha no silêncio, e silêncio a gente desaprendeu. Cala-se a boca mas não cala-se a mente que abarrota nosso eu de coisas miseravelmente conhecidas e supostamente seguras. E Safo, penso, está cansada de minhas mesmas coisinhas de todo dia com as quais preencho obsessivamente meus espaços onde ela mora. Quando foi mesmo que saí do gráfico, chutei um balde, tomei um porre, fui sem avisar, não fui sem avisar, roubei um beijo, cometi uma gafe, andei na chuva, passei da conta, p

Metamorfose

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Como são odiosas estas pessoas que flanam sem pressa no trânsito sufocante de São Paulo...

Estúpido e urgente

A gente se distrai da gente. Basta saltar na nossa frente o que é realmente vital, espontâneo, cardíaco, que bate aquela vontade de ir fazer qualquer coisa estúpida do tipo arrumar uma gaveta. Ou então uma preguiça mórbida, um arroubo depressivo, ou uma maldita vontade de comer. É assim que faço com minha escritora. Vive à míngua, relegada a momentos improváveis do dia, descuidada. Carrega meu fogo eterno, mas mora no limbo da minha autoestima indisciplinada, permissiva. E é batata: basta surgir na minha frente a provocadora página em branco para que uma idiotice qualquer desande a me cutucar impiedosa, inadiável. Diante do divino em mim, me arreganho para todas as mediocridades do mundo. Ali dentro brilhando solene, límpido, direto, claro, o caminho querido. Desvio os olhos e lá vou eu me anestesiar. E a merda é que já vi, sempre vejo, eu sei. Mas não adianta, preciso tomar mais um cafezinho, comprar mais uma calça, gastar o teclado do celular, distrair-me do que de verdade poderia me

Desamor

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Cuidado com as merdas que o desamor faz, que o desamor vira, calado aí dentro, amoitado...