Cansada de minha densidade habitual busco conforto na existência nefasta de um pernilongo. Não vou falar da crise brasileira, da apatia geral, do avanço da violência... Chega, meu Deus, cadê o pernilongo? Ali está, suicida, criatura inútil, pousado no teto branco. Desconheço a finalidade deste sanguessuga voador na ópera da existência. Está lá inerte, a mercê da minha raquete torra moscas. Cadê minha raquete torra moscas? Ali está ela, plenamente carregada, ferramenta banal da minha porção cruel e assassina que se regozija na eletrocução de tênues vampiros voadores. Empunho o instrumento letal e volto o olhar de novo para o teto onde o bicho misteriosamente não mais existe. Pernilongos são assim: fantasmagóricos, adeptos do desaparecer. Pior: eles leem a nossa mente. Basta que você se levante atrás de um recurso para exterminá-los e eles, que estiveram repousados naquele mesmo lugar por toda uma eternidade, somem feito um gás. Agora me resta a quase sempre infrutífera tarefa de