Amor Próprio
Buscar mulheres e homens bons e suas atitudes diárias de nobreza.
Incensá-los, promovê-los, publicá-los nas redes sociais.
Me atirar na correnteza de destroços do tsunami amoral e arrancar de lá uma criança.
Pelo menos uma criança.
Colocá-la sobre uma montanha de brasileiros bons, admiráveis.
Não deixar a paisagem viciada de violência e abuso ser natural para os seus olhos.
Me dedicar com obstinação a contrapor nas mídias de massa as cenas do nosso extermínio dos valores.
Não permitir que elas se banalizem.
Me virar do avesso a caça de uma indignação sobrevivente.
Ficar de pé na lama. Negar seu abraço podre.
Negar a imagem no espelho do vil, do esperto, do baixo.
Buscar mulheres e homens altos que seguem cada vez mais emudecidos e convidá-los a cantar.
Me atirar contra a corrente. Como um idiota ou um herói. Atrás de cada brasileiro de valor.
Apontá-lo no meio da multidão, abraçá-lo, arrebentar as mãos num aplauso louco, apaixonado.
Dizer “este é o cara”, este é “o espelho”, e plantá-lo feito semente na nossa desesperança.
Me insurgir urgentemente contra o massacre do amor próprio que nos torna apáticos, abusáveis.
Arrancar um basta das profundezas frias do pântano onde a alma devia estar morta
E desautorizar qualquer sanguessuga de gente, qualquer babaca plantador de violência,
Qualquer medíocre movido pelo imediatismo raso da egolatria,
A disfarçar sua estupidez de verde amarelo.
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