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Mostrando postagens de abril, 2018

Revoluçõezinhas

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Na era do excesso de comunicação vejo as grandes revoluções perdidas para manipuladores. Me socorro nas pequenas revoluções diárias: compartilhar conhecimento nas redes sociais, catar lixo no chão, cumprimentar com meu melhor sorriso o velho solitário que caminha pelo parque todas as manhãs, cuidar do outro, estar presente. Minhas micro-revoluções estão a salvo porque são anônimas, invisíveis. Ninguém quer comprá-las ou vendê-las ou colar lantejoulas nelas. Ainda são desinteressantes para o sistema. Não têm bandeira, nem porta voz, nem expectativa de mudar o mundo.  Se bastam na reinvenção pessoal diária, na sensação de integridade, na paz de cada abraço amoroso. No tempo da comunicação fria, vejo valores mortos em hipertextos e falatórios virtuais e me abrigo nos pequenos oásis plantados na realidade cotidiana: a risada inesperada do alto executivo, a história sábia contada pela atendente da padaria, os minutos forjados no caos da agenda para encontrar o amigo. Bolhas de sabão magn

Tempo de Lagarta

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Há respostas que só virão no seu tempo. Nem terapias, nem bolas de cristal, nem chás alucinógenos serão capazes de fazê-las nascer a fórceps. Teremos que suportar as indefinições ardendo enfiadas embaixo das costelas, agarrados a palavras soltas da frase que não se forma nunca. Perguntando mil vezes ao oráculo, esmurrando inutilmente as esfinges para que nos decifrem. Há entendimentos que, apesar de prontos no fundo da mala do universo, não serão entregues porque precisamos deles, porque os queremos. Chegaremos a tocá-los com a ponta dos dedos, como um sopro de premonição, um vislumbre do porvir, mas a compreensão escapará escorregadia e nos devolverá ao nevoeiro.  Por que há respostas que só nos arrebatam quando abdicamos da busca, quando queimamos os mapas e sentamos no silêncio. Quando nos entregamos à escrita do tempo e seus mistérios. Quando nos abandonamos na correnteza. Então, elas nos encontram.  Brotam do nada sobre a mesinha de centro da sala. E o absurdo total que nos con

O Outro Planeta

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O velhinho cata os lixos do parque, Silenciosamente. Cata os lixos da alma do mundo, Sem alarde. Abre buracos na terra e enterra sementes, Anonimamente. Explica que é para os netinhos, Gigantesco. Eu, catadora de lixos no caminho, Encontro o velhinho. E conversamos flutuando em extase No plano sem linhas Da compaixão, do respeito, do cuidado. Onde a separação inexiste. Onde o lixo que tiramos da pele do planeta Deixa respirar nossa própria pele. Nosso planeta, meu e dele, onde há paz. Há tantos planetas coexistindo no aqui agora, A física me diz. Por que escolher o planeta dor e não o dele? * * *

Acorde

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Sua opinião é só um conceito herdado e transitório Não agrida por ela Sua boa ação é só uma inteligência na unidade do todo Não se vanglorie dela Seu ídolo é só uma projeção da sua vaidade Não se entregue ao fanatismo Seu mártir é só a casa da sua vítima Não o coloque num altar O poder é ilusório quando desestabiliza A inteligência é enfeite quando não tem amor A filosofia é oca quando não é vida O caminho é dor quando é separado E esta dor é o alarme da existência tocando num quarto enganoso criado pela sua mente. É só um jogo de pensar. Enxergue o jogo. Jogue sem dor. Acorde.