Tempo de Lagarta

Há respostas que só virão no seu tempo. Nem terapias, nem bolas de cristal, nem chás alucinógenos serão capazes de fazê-las nascer a fórceps. Teremos que suportar as indefinições ardendo enfiadas embaixo das costelas, agarrados a palavras soltas da frase que não se forma nunca. Perguntando mil vezes ao oráculo, esmurrando inutilmente as esfinges para que nos decifrem. Há entendimentos que, apesar de prontos no fundo da mala do universo, não serão entregues porque precisamos deles, porque os queremos. Chegaremos a tocá-los com a ponta dos dedos, como um sopro de premonição, um vislumbre do porvir, mas a compreensão escapará escorregadia e nos devolverá ao nevoeiro.  Por que há respostas que só nos arrebatam quando abdicamos da busca, quando queimamos os mapas e sentamos no silêncio. Quando nos entregamos à escrita do tempo e seus mistérios. Quando nos abandonamos na correnteza. Então, elas nos encontram.  Brotam do nada sobre a mesinha de centro da sala. E o absurdo total que nos consumia ganha um sentido estarrecedor. Tudo esteve lá o tempo todo, mas subitamente faz sentido. Como se tirassem do nosso nariz um par de óculos desnecessários e o mundo entrasse em foco. Há respostas que pertencem ao tempo da entrega e não da procura. Então hoje, eu acolherei em mim este sem sentido, serenamente. A resposta já está no agora adormecida em seu casulo. Posso sentir no corpo da lagarta a borboleta. Para mim basta.
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