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Mostrando postagens de setembro, 2018

Ser Político

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Sou um ser político. Me esforcei para estar hoje nesta condição dolorosa em meu país. Como mal, durmo mal e acordo angustiada. No meu país não há muitos seres políticos. Faltou estímulo e espaço para que crescessem. Não aprenderam a debater nas escolas onde deviam obedecer e ficar calados.  Não aprenderam a beleza da divergência que para eles sempre soa como perigosa. Acostumados a esperar a guiança de uma autoridade, acabaram dependentes de figuras ególatras hiperdimensionadas. Se incomodam com uma correção e sentem-se mortificados com uma crítica. Aliás, no meu país, políticos não assumem erros e não pedem desculpas. Não podem. Não existem seres políticos em número suficiente para compreender estas humanidades, só filhos de um pai intocável que manda. E como políticos erram, decidiram simplesmente dizer que não erraram, e tudo bem. Os filhos adotam um silêncio cúmplice ou simplesmente repetem as desculpas esfarrapadas do pai para algum crítico incauto. E seguimos nos enganando em

O Mal de Volta

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Então a maldade mostra os dentes no nosso café da manhã.  A maldade se esparrama feito dona da casa pelos talheres limpos e pratos brancos da mesa e se enrosca tal qual serpente no vaso de margaridas. Não é mais privilégio dos bandidos de ontem que tinham a decência de ficar pra lá do muro. De repente, a vilania está na cabeceira da cama vestida de rendinhas, sorrindo. É meu irmão, minha mãe, meu tio, meu amigo de ontem cruzando a sala de estar com um broche do mal espetado na camiseta. É a inocência de todos sendo exterminada a golpes de facão enquanto o mal senta-se no trono e confronta poderoso a nossa ilusão de paz. Não é um sujeito, dois, um milhão de sujeitos...  É o mal em si que esperou tanto tempo na sombra hipócrita das nossas mentiras confortáveis. É o mal que tentamos calar no sacrifício de alguns grosseiros primitivos incapazes de fachadas politicamente corretas. O mal que ficou em silêncio enquanto criávamos deuses e desdenhávamos os demônios supostamente sufocados

Doce e Sal

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O limite entre a simpatia e a hipocrisia é linha tenue.  E, às vezes, é preciso gritar bem alto o que todos susurram baixinho. Sempre atenta ao ser humano, desenvolvi em mim a extrema capacidade de saber o que ele sente, o que espera e o que topa. Assim aprendi seu apreço irracional pelas embalagens. Como publicitária, embalei coisas e gentes para que tivessem permissão de entrar na tua casa. Emprestei minha poesia a carros e minha oratória a presidentes, ensinei empatia ao antipático, vesti camisa azul no embotado e escondi sindicalistas grosseiros atrás de uma borboleta. Tentei te alertar contra mim mesma através da sinceridade desinteressada da arte. Mas aprendi que na arte eu te ofereço minha verdade e você foge e na publicidade eu te dou mais entorpecimento e você me paga caro. Então, por muito tempo, contribuí ativamente na construção desta ilusão sob teus pés.  Uma ilusão combinada entre nós. E fomos hipócritas juntos, ligados por mentiras e silêncios pactuados e até chamei i